Mais um gole na madrugada
Caminhava solitário e descontente pelas ruas mal iluminadas da pequena
cidade em que vivia. Pela cabeça, os pensamentos mais frios e sem vida o
surpreendiam.Seus passos o haviam conduzido a rua principal, nela encontraria
os diversos botecos freqüentados pela boemia local.Avistou um único bar aberto
já que o excedente das horas fazia com que todos os outros já tivessem baixas
suas portas.Não havia outra opção.Resolveu entrar e encerrar sua noite tomando
mais duas ou três cervejas. Desenvolvera esse hábito, sair solitário após as
baladas, andando desnorteado pelas ruas até encontrar algum boteco em que
pudesse pensar sobre suas verdades e contradições.Um lugar que lhe oferecesse o
silêncio necessário para junto de suas dúvidas tecer um diálogo interior a
cerca de seus dias de solidão por vezes voluntária. No interior do bar, dois
rapazes cercavam uma prostituta que dona da situação fazia-se de difícil.Numa
outra mesa um pobre diabo que somaria dezessete anos incompletos, dormia
envolto em seu próprio vômito.Sua face adolescente contrastava com a mesa
suja.Repugnou-se com a cena e sentou-se na mesa que ocupava o extremo oposto
daquele estabelecimento escroto, de costas para aquela cena horrenda que o impregnou
de ódio e rancor eternos pela sórdida e vil condição humana.Não demorou muito
para que a dona do maldito boteco, uma
gorda de cabelos oxigenados e seios enormes o atendesse e lhe trouxesse uma
cerveja barata e alguns pedaços de salame acompanhados de uma fatia de limão
num prato imundo.Enquanto bebia a cerveja e deglutia um pedaço de salame
embebido em limão, flashs traziam a frente de seus olhos a face do garoto
cercada de vômito por todos os lados.Desnorteado, fechava os olhos com força e
levava as mãos à cabeça em visível desespero.Não agüentando mais a pressão
interna virou sua mesa sobre a prostituta que negociava com os dois rapazes o
preço da trepada.Os rapazes que eram brigões resolveram tirar satisfações e um
deles teve a garrafa de cerveja quebrada na cabeça, a gorda do bar imediatamente
chamou a policia, enquanto o outro rapaz espancava quem iniciou todo aquela
confusão.
João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.