sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Mais um gole na madrugada


        Caminhava solitário e descontente pelas ruas mal iluminadas da pequena cidade em que vivia. Pela cabeça, os pensamentos mais frios e sem vida o surpreendiam.Seus passos o haviam conduzido a rua principal, nela encontraria os diversos botecos freqüentados pela boemia local.Avistou um único bar aberto já que o excedente das horas fazia com que todos os outros já tivessem baixas suas portas.Não havia outra opção.Resolveu entrar e encerrar sua noite tomando mais duas ou três cervejas. Desenvolvera esse hábito, sair solitário após as baladas, andando desnorteado pelas ruas até encontrar algum boteco em que pudesse pensar sobre suas verdades e contradições.Um lugar que lhe oferecesse o silêncio necessário para junto de suas dúvidas tecer um diálogo interior a cerca de seus dias de solidão por vezes voluntária. No interior do bar, dois rapazes cercavam uma prostituta que dona da situação fazia-se de difícil.Numa outra mesa um pobre diabo que somaria dezessete anos incompletos, dormia envolto em seu próprio vômito.Sua face adolescente contrastava com a mesa suja.Repugnou-se com a cena e sentou-se na mesa que ocupava o extremo oposto daquele estabelecimento escroto, de costas para aquela cena horrenda que o impregnou de ódio e rancor eternos pela sórdida e vil condição humana.Não demorou muito para que a dona do  maldito boteco, uma gorda de cabelos oxigenados e seios enormes o atendesse e lhe trouxesse uma cerveja barata e alguns pedaços de salame acompanhados de uma fatia de limão num prato imundo.Enquanto bebia a cerveja e deglutia um pedaço de salame embebido em limão, flashs traziam a frente de seus olhos a face do garoto cercada de vômito por todos os lados.Desnorteado, fechava os olhos com força e levava as mãos à cabeça em visível desespero.Não agüentando mais a pressão interna virou sua mesa sobre a prostituta que negociava com os dois rapazes o preço da trepada.Os rapazes que eram brigões resolveram tirar satisfações e um deles teve a garrafa de cerveja quebrada na cabeça, a gorda do bar imediatamente chamou a policia, enquanto o outro rapaz espancava quem iniciou todo aquela confusão.







João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog.  É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra,  baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.


                                                                                                                          

                                                                                  

                                                 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011







Os pés...

                Explico o porquê, na verdade nem contei para explicar, estou na sensação, e um exercício violento para educar meus impulsos. Eu quase trinta, profissão prazerosa e pouco rentável, a vida e sonhos muitos mais acomodados que inertes, e a rotina no meu copo d'água. Já tinha desistido de Lord  Byron e as profundezas. Fui um misto de tentativas e medos. Experimentei o amor e a destruição. A futilidade e o enfrentamento desciam por escombros dentro de mim. Havia tomado uma decisão, ficaria para titio.

                Fevereiro primeira aula do ano, turma nova e boas expectativas. Galera atenta e disposta. A rotina e as descobertas de narrativas ansiosas pela muralhas da caminhada. Eles querem ser vistos da lua.  Reconheço alguém do meu passado próximo, passado em textos e teatros. Tinha trabalhado numa peça Roseana e ela estava lá no processo, não conversamos muito, mas foi o suficiente para gostarmos um da fotografia do outro.

                Com o tempo nos aproximamos,  eu profissional e ela curiosa. e percebemos que muita coisa nos afinidava. Música, teatro, dança e principalmente sensibilidade. Como adorávamos nos afundar nesse balde de sensações humanas. Nossas conversas foram ficando mais como álbum de figurinha, a todo momento um chegava com uma que faltava. Ela cheirosa, às vezes de cabelo molhado, e um detalhe que é um deleite, seus pés. Sim, sou um homem comum, com fetiches em pés. Eles eram pequenos, tamanho 34 ou 35, pele clara e fina, unhas grandes nos dedos, sem marcas           e perfeitamente encaixados num chinelo simples, mas que brilhava naquele instante.

                Fiquei apaixonada por eles, e aqui faço uma ressalva, ela também era bonita, pois raiz boa dificilmente dá frutos ruins. Sonhei meses com aqueles pés, mas não podia manisfestar nada, pois era minha aluna com seus dezessete anos. Sempre respeitei esta condição.

                Ela demostrava interesses pelas aulas, mas principalmente pelas conversas. E aqui confesso que evitei. Ela chegava mais cedo, propunha bons temas e espertamente sabia o eu que gostosa. Tinha o capricho de colocar Jaco Pastorius no mp3 só para me deixar louco, mas os pés me calavam, os sonetos amorosos de Vinícius começaram a fazer sentido. Tudo era brumal naqueles minutos.

                Um dia ela saiu chorando de uma aula, era pela sensibilidade, cada gota sua era uma enxurrada para mim. Percebi que ela começou andar pelos meus caminhos e me observar.

Quem imagina. Nos falamos de maneira objetiva, ela com aqueles pés que dariam um novo destino a minha vida e eu sem nada a oferecer. Nos encontramos numa festa, dançamos, rimos, não conseguíamos ficar longe um do outro. No meio do turbilhão, ela disse que iria embora comigo.      Custou-me um emprego, que foi o preço mais barato que paguei por algo sem valor mensurável e maravilhoso. Sim, fiquei louco, mas deixo minha inquietação e me exponho dizendo que sou vítima daqueles pés.

Um instante...

                Levei-a embora, ela estava sem sandálias, quando parei o carro em frente sua casa  e fui me despedir vi seus pés e reticente a beijei. Ela me entregou o sonho e  foi pela calçada. Seu cheiro me entorpeceu, seus pés marcavam minha estória para nunca mais ser a mesma. Aumentei meu som e ouvi o Vinícius recitando uma poesia, dizendo ao final, essa é a minha mais nova namorada.

                                                    


esse texto é Para Priscila Amaral....
leandro rosa felix, , professor, baixista da banda livre docente de Franca e amigo de longa data, é o cara que iniciou o fanzine âncora comigo e que também pode reivindicar a paternidade desse blog. 

sábado, 22 de outubro de 2011


Lançamento do terceiro livro de Regina Baptista  "Ato Penitencial".

( O âncora esteve presente. )



Conheço Regina Baptista já há algum tempo. Lembro-me dela das noites de cerveja e música no Cauim. Lá se vão mais de três anos.  Na época havia escrito seu primeiro livro “Cárcere Privado”.  Chegou a presentear  a  biblioteca da Fundação CASA com essa novela. Tive a oportunidade de ler algumas de suas breves narrativas  que mais tarde formaram seu segundo livro “Mundo Suspenso”.
No dia 21 de outubro pude conferir o lançamento de seu  terceiro livro, realizado nos Estúdios Kaiser de Cinema (Rua Mariana Junqueira, 33). Quando cheguei ao local, ela já estava autografando,  entrei na fila e aguardei a minha vez.  Após cumprimentá-la,  fiquei alguns instantes conversando com o também escritor de Ribeirão Preto, o simpático Toledo, dono de uma das mais impressionantes risadas que já ouvi.  Uma figura literária, com toda a certeza. Mais tarde juntou-se aquele grupo outros escritores, tais como, Nicolas Guto e Menalton Braff.  Tomei um champanhe, joguei um pouco de conversa fora e aproveitei a carona de amigos ( Elizabet e Rodrigo ) para ir embora.
Comecei a ler o livro de Regina no ônibus para Serrana e encerrei a leitura apenas hoje.  O conteúdo ainda está bem fresco em minha memória. O livro para mim não foi só uma obra de ficção que gostei muito de ler, como também me forneceu referências para estudos posteriores sobre o tema. Trata-se de um livro que não traz um fim em si mesmo.  Parabéns Re...SUCESSO!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011


Crepúsculo dos Ídolos - Monte Alto
                                              

No dia 16 de outubro uma van saiu de Serrana  com as bandas Corvo de Vidro e Íbis, além de amigos  e equipamentos, tais como cubos, guitarras, pratos de bateria...aquelas coisas necessárias para um bom barulho. O destino da van foi a cidade de Monte Alto e o objetivo da visita foi comemorar o aniversário de um dos maiores e mais influentes filósofos da modernidade, mesmo que muitos ali dentro daquele “espaço motorizado sobre quatro rodas”  só tenham ouvido falar nesse cara bigodudo e sua filosofia libertária. Para não cansar o leitor, pararei por hora de falar sobre o filósofo, mas voltarei a mencioná-lo e em doses tão homeopáticas que talvez nem perceba.

Tocar em Monte Alto para a banda Corvo de Vidro significou o fim de uma trilogia: Serrana, Monte Azul e Monte alto. Foi massa demais tocar nessas três cidades. Cada qual trás consigo sua singularidade.

Ao descer da van, a primeira coisa que fiz,  foi checar os níveis de álcool e nicotina do sangue e tratar logo de equilibrá-los. Acendi um cigarro e caminhei  até o bar que estava fechado e só abriria mais tarde. Restava-me procurar coisas a fazer. Finalmente, entrei no Anfiteatro Municipal de Monte Alto, revi amigos, tiramos fotos, dei uma conferida  no Varal de Poesia, com exposição de trabalhos de artistas nacionais, ligados ao Fora do Eixo (FDE) e Fora do Eixo Letras (FEL). Aproveitei para deixar meus zines por ali também. Na mão direita de Thaisa está a compilação do Âncora zine, em breve sairá um novo número, e na mão direita de Danilo, o cd/coletânea com músicas das bandas Corvo de Vidro e Mano Pinga e seus Comparsas. Além do som, o zine também traz  um texto que apresenta o Movimento Garrafão Underground e suas intenções. 



Teve também uma exposição do artista plástico Iron V. King, com sua arte crepe, que sempre deixa a todos um tanto quanto chocados por sua ousadia.

Depois disso a banda se reuniu e fomos juntos ( não é lindo? ) visitar o Museu de Paleontologia da cidade que fica logo ali “ du ladim “ e “abriga os fósseis recolhidos nos arredores da cidade e mesmo nas cidades vizinhas, provenientes de depósitos fossilíferos associáveis às formações Adamantina e Marília do Grupo Bauru, Cretáceo Superior continental da Bacia do Paraná.” Isso eu não sabia. E você? Agora a gente sabe.











Quando voltamos ao Anfiteatro, o Marco Buzetto ( que organizou todo o encontro ), convocou-me para o início do bate-papo sobre Nietzsche. Além de mim, estavam presentes nesse encontro a  psicóloga e especialista em Filosofia e Educação, Fernanda Berganton e o escritor local ( que já conhecia ) Luiz Mozzambani Neto de quem comprei um livro, e falarei sobre ele assim que terminar de lê-lo. O nome do livro é “ Embrulhos “. Foi o primeiro autógrafo colhido para o blog.
O bate papo foi muito bom, começou com Nietzsche  e passou por Monteiro lobato, Rafinha Bastos, Sertanejo Universitário, Identidade Cultural, Quem é o caipira, afinal????? Questões, polêmicas, dúvidas...elementos fundamentais a filosofia. Gostei. Obrigado pelo convite Marcão. Estamos aí. Com tantas idas e vindas passamos da hora. Mas o que é o tempo, senão um mero conceito.
E o som começou a rolar com o casal de Monte Azul Paulista Que Miras Chicon http://www.quemiraschicon.com/que mandou ver seu banjo distorcido e batera na velocidade da luz.
Na sequência a banda Ìbis http://ibisrockdevarzea.blogspot.com/  de Serrana  em sua mais nova, nova... recente formação. Veja a foto.

Estranhamente, e para nós foi uma honra, a Banda Pesadelo da cidade de Guariba http://www.bandapsd.com.br/ tocou antes do Corvo de Vidro. E arrebentaram, afinal, anos de estrada, de rock na veia. O Alan, guitarrista do Corvo de Vidro é fã da banda desde de moleque e curtiu muito a apresentação.

Para fechar os trabalhos do dia. Foi a nossa vez de  tocar. Corvo de Vidro. E que massa, o pessoal que estava presente participou. Desde a última apresentação percebo que a galera começa a conhecer as músicas e curtir mais a banda tocando.  Que isso se repita sempre. Destaque a mais uma homenagem que fizemos ao Redson, vocalista da banda Cólera que faleceu em setembro. Dessa vez, al ém de “Amnésia” que é o som que já tocamos,  contamos  com a participação de Luizinho da banda Pesadelo e Brasileiro do Ìbis na música “ Medo “.  


Por fim, o saldo do evento acho que foi positivo para todos os envolvidos. Valeu Marco Buzetto, "tamo junto, man". 

 As fotos acima foram tiradas na sua maioria por Alan Belíssimo, guitarrista da banda Corvo de Vidro.





sábado, 15 de outubro de 2011



2ª Intervenção Urbana em Ribeirão Preto

Corvo de Vidro e Mano Pinga e seus Comparsas








Um raio cai sim duas vezes em um mesmo lugar. Isso foi comprovado hoje, 15 de outubro de 2011. Além de marcar o dia dos professores, marcou também a segunda intervenção promovida pelo Movimento Garrafão Underground. As mesmas bandas ( Corvo de Vidro e Mano Pinga e seus Comparsas ) e também as mesmas reações do público que parou, estranhou, mas depois fotografou e se divertiu com as bandas. Tiveram também algumas turbulências, mas que foram rapidamente contornadas. Voltaremos a elas depois.
Como em um vídeo tape, o Corvo de Vidro foi a primeira banda a tocar. Senti dessa vez os populares mais próximos de nós, incentivando e aplaudindo. Alguns mais exaltados proporcionaram um show a parte. Dançaram, pularam, tiveram por alguns instantes suas vidas assistidas pela sociedade que lhes dá as costas. Nesses instantes lembrava-me de um som do Cólera chamado “ Os bêbados “ que diz: “ latas sujas e vazias na estação, todo dia sem motivo lá estão... cada vez mais que antes eles beberam e voltam sempre pro refúgio da estação”. A palavra estação nesse caso seria substituída por mercadão. Sem que me desse conta do tempo, já estávamos no final da quarta música e eu cantaria a quinta. Uma homenagem ao guitarrista e vocalista de uma das bandas pioneiras do Punk nacional, Redson Pozzi, da banda Cólera. “...esse som é para nunca esquecermos, esse som é para jamais termos amnésia.” Para mim o momento alto de nossa apresentação, já que cresci ouvindo essa banda e aprendendo muito sobre a vida com as mensagens certeiras de suas letras. Outro momento digno de nota foi quando, ao comunicarmos o fim da apresentação, ouvimos algumas vozes que pediam para tocarmos “simplesmente Gelada”. Voltamos e tocamos. Foi nosso primeiro bis. Mais uma vez, como em um flashback, Alan, Guitarrista do Corvo de Vidro, anunciou a próxima atração – E agora, Mano Pinga e seus Comparsas.
Parte das turbulências que enfrentamos e que atrasou o início do som, foi a energia que faltou no Mercadão e tivemos que conseguir uma outra fonte. Começamos tarde e as duas bandas precisaram encurtar o seus repertórios. O Mano Pinga e seus Comparsas começaram com toda energia sua apresentação, mas infelizmente apresentaram somente quatro músicas já que o horário de nossa permissão havia terminado.
Durante o som das bandas, foram distribuídos fanzines /coletâneas com sete músicas. Quatro do Mano Pinga e seus Comparsas e três do Corvo de Vidro, sendo que uma delas “ Doença Imperfeita, foi gravada no Estúdio Garrafão. O zine também trouxe a release das duas bandas e uma apresentação do Movimento Garrafão que você poderá ler na sequência.

Muito prazer!!!! Movimento Garrafão Underground.
Chegamos para ficar!!!!!!!!

O Movimento Garrafão Underground surgiu em 2011, através da união de pessoas interessadas em levantar o movimento underground e independente dos cenários musical e artístico ribeirão-pretanos.
O estopim se deu com o sucesso do Arena Rock 2011, o maior festival de Rock de Ribeirão Preto, que foi levantado de forma independente e com poucos dias hábeis. Disso, apareceram novas ideias e propostas para fortalecer o cenário Rock and Roll da cidade, que já há algum tempo se encontrava abandonado. E esta é apenas uma delas.
Sua sede está localizada no Garrafão Underground Estúdio, onde são realizadas as reuniões, encontros, preparação e planejamento de ações do grupo.
Nosso movimento deseja criar um espaço onde as bandas possam divulgar seu trabalho livremente, ter acesso a shows, eventos e locais pra tocar, conceder entrevistas via livestream e obter dicas e apoio para preparar material para divulgação.
Na manhã de 24 de setembro de 2011, o movimento realizou uma intervenção no Espaço Cultural, localizado no corredor entre o Mercadão e o CPC. O fluxo de transeuntes foi interrompido pelo som das bandas, Corvo de Vidro e Mano Pinga e seus Comparsas. Todos paravam, fosse para dar uma olhadinha, ou para tirar fotos. Com o sucesso da intervenção, resolvemos realizá-la outra vez. Dessa vez as bandas terão seu material divulgado numa coletânea que acompanha o zine. Além da apresentação do Movimento Garrafão Underground, o leitor também terá acesso às releases das bandas. Ações como essa, serão realizadas com frequência, portanto fiquem atentos às novidades que certamente virão.
Já comprovamos que com pessoas interessadas, com esforço, dedicação e acima de tudo, união, poderemos fazer o movimento crescer cada vez mais e enraizar concretamente a cultura Rock and Roll, que já está opaca há um bom tempo na cidade.
Esperamos que  todos se juntem a nós, para um trabalho e esforço conjunto e satisfação geral do público Rock and Roll.
Long Live Rock and Roll!





 

















   

     

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

No próximo dia 21 de outubro a escritora Regina Baptista, lançará seu terceiro livro,  "Ato Penitencial". Será nos Estúdios Kaiser de Cinema (Rua Mariana Junqueira, 33). às 20h00. O âncora estará presente.

 sinopse:

Um padre, Fausto, cansado de conduzir sua comunidade e vivendo a dúvida sobre sua vocação, decide relatar sua vida desde uma tragédia na infância até chegar ao sacerdócio. Intercalando com esse relato, Fausto faz reflexões sobre a sociedade atual, os desafios que ele enfrenta como padre e os fragmentos de lembranças do passado. À medida que Fausto se aprofunda nas suas limitações e fraquezas, o demônio Asmodeu se insinua para ele fazendo provocações e promessas de torná-lo um super-homem.




A autora enviou ao blog um trecho de seu romance. Segundo ela é uma passagem que expressa bem a personalidade de um Fausto "tradicional".  



"O meu vazio é algo que ninguém pode me tirar. É meu tesouro. Meu vazio e minha solidão são tudo que eu tenho, tudo que conquistei. Não posso me gabar de tal conquista, é verdade. Mas são minhas únicas conquistas, o que me dá o direito de tratá-las como tesouros. Meus dias são de busca das vantagens que eu sei existirem sob o vazio e sob a solidão. Sei que eles foram construídos para mim e eu para eles. A partir do meu vazio posso entender a ausência de vida nos corações daqueles que buscam socorro na sacristia. A partir da solidão posso traçar um projeto de comunhão que envolva a todos os corações solitários, sem que eles mesmos se deem conta disso. É claro que tudo isso parece uma demonstração pretensiosa. E é, em parte. Mas não se trata apenas explorar minha fraqueza, existe sim aquele prazer. E devo reconhecer que é esse prazer que me mantém nessa vida de desprazer".





    Mais informações visite o Blog da escritora




     




























quinta-feira, 6 de outubro de 2011




Crepúsculo dos Ídolos

Para comemorar o aniversário de um dos maiores e mais influentes filósofos da modernidade, o Coletivo CULTURAMA MACC preparou um encontro de Filosofia, Literatura e Música, com apresentação de 4 bandas para fechar a noite com chave de ouro.


Ainda não temos a confirmação de alguns convidados. No entanto, contamos com a presença do escritor Luiz Mozzambani Neto (Monte Alto), do professor João Francisco Aguiar (Serrana) e da psicóloga e especialista em Filosofia e Educação, Fernanda Berganton.


Além disso, e não somente, já a confirmação das bandas Que Miras Chicón (Monte Azul Paulista/Coletivo Matuto), Íbis (Serrana/Coletivo CECAC), Corvo de Vidro (Ribeirão Preto) e a lenda do rock and roll do interior paulista, Pesadello (Guariba).


O encontro terá início as 15h do dia 16/10/2011, com término previsto para as 22h. Sendo que os debates durarão das 15h às 17h, e a apresentação das bandas a partir das 17h, com 1h de apresentação para cada (tempo estimado).


Contamos também com um Varal de Poesia, com exposição de trabalhos de artistas nacionais, ligados ao Fora do Eixo (FDE) e Fora do Eixo Letras (FEL).

Início: 15h

 

Local: Anfiteatro Municipal de Monte Alto

(Centro Cívico e Cultural - ao lado da Câmara dos Vereadores)


Entrada: gratuita.
texto extraído do blog http://coletivoculturama.blogspot.com




O Coletivo CULTURAMA é uma movimentação de pessoas ligadas à comunidade de Monte Alto-SP que se mobiliza a favor da socialização total da cultura, do lazer cultural. Surgiu na cidade de Monte Alto-SP como forma de restabelecer a iniciativa cultural nesta sociedade, por meio de manifestações e eventos culturais de maneira geral – com ou sem o apoio dos órgãos competentes em vigor.





Fica o agradecimento ao professor e agitador cultural de Monte Alto, Marco A Buzetto.

Historiador, Filósofo, Educador e Escritor montealtense. Manifestante cultural. Fomentador da crítica e da dúvida acima de qualquer suspeita. E, porque não, suspeito acima de qualquer suspeita.

sábado, 1 de outubro de 2011

Lanterna Mágica


O coro das sombras humanas

Acompanhávamos seus passos lentos
Dele Dela
Nascíamos de seus pés
Dela Dele
Nós
Negras figuras arrastadas pelos tristes corredores
Entre cubos de mármore
Sob os olhos dos santos
Cobríamos flores murchas secas
Tínhamos o tamanho de um gigante etíope
Tínhamos seis metros
Tínhamos a forma esquálida de uma fome humana
Do outro lado
Dele Dela  
Morria o sol dourado morno.
Dela Dele
Éramos testemunhas únicas
Guardávamos suas costas
Apagávamos seus rastros
Suas vestes negras recortavam silhuetas humanas
Que mais pareciam ausência de céu que a presença da carne.
Desse buraco aberto no mundo
Ele Ela
Escorríamos longos pelo solo áspero.
Ela Ele
Mulher menino
Acompanhavam em silêncio mudos
O pequeno corpo oculto
Guardado
Ornado
Frio
Por fim,
Um mergulho seco
Presenteando a terra a sombra o nada

                                                                              XXX



               
O coro das horas mudas

...enquanto atravessávamos caladas... estavam Ele e o Outro... sob a sombra dos chorões ou dos bambus... Ela estava calada... lendo... sempre lendo... às vezes olhava... às vezes sorria... às vezes sentia algum prazer... o Outro e Ele... gêmeos...  brincavam... os bambus envergados eram uma bela cabana... brincavam... Ele corria às vezes... o Outro não... assim era o Outro: tinha os pulmões fracos... tinha um sorriso bonito... tinha os músculos flácidos... tinha luz solar nos olhos... não conhecia as palavras... não aprendera nenhuma... Ele sabia... muitas delas... palavras... Ele corria... Ele nadava... Ele era um menino comum... o Outro era todo luz... e silêncio... Ela... a mãe... lia... lia e parava... pensava... nós atravessávamos caladas... enroscadas em seus pensamentos... nós conhecíamos o que Ela era... sob a sombra do seu afeto... uma dor já crônica arranhava... Ela estava cansada... o Outro seria sempre luz... e silêncio... o Outro também era Ela... Dela... filhote... não filho... filhote, dizia Ela... enquanto nós atravessávamos caladas... Ele e o Outro... cresciam em silêncio... gêmeos... nas noites de inverno... vestiam pijamas de flanela... Ele fazia cabanas de lençóis... o Outro sorria... projetavam sombras com a lanterna... silhuetas de pequenos bonecos... cresciam trêmulas: elefantes... águias... girafas... leões... invadiam as paredes... o Outro faiscava luz pelos olhos... e era sempre silêncio... Ele amava o Outro... Ele cuidava de seu silêncio... os dois... mudos brincavam... mudos sonhavam... mudos se amavam... os dois filho e filhote Dela... Ela servia a sopa... Ele comia com suas próprias mãos... o Outro tinha os músculos flácidos... Ela como pássaro alimentava-o... derramava a sopa em sua boca... dia após dia... enquanto passávamos... Ele corria menino... o Outro trocava passos... tronchos... tortos... Ela era a mãe pássaro... o Outro jamais voaria... Ela para sempre mãe pássaro... Ela estava triste... mas Ela sorria... e cuidava... Ele já ia ao colégio... Ele aprendia palavras... Ele cansou do silêncio... ao Outro bastava olhar o mundo... transbordando luz... de seus grandes olhos... Ele detestava o colégio... ao Outro o tempo era sempre o mesmo... ao Outro Ela seria sempre asas... afeto... cuidado... Ele já não era o Outro... eram um e Outro... já não faziam cabanas... Ele mostrava ao Outro... que podia correr... Ele falava para violar o silêncio... Ele voava revolto... o Outro... sorria... nunca era trevas... Ela sim... era trevas... estava cansada... enquanto nós passávamos... ouvíamos sua respiração acumular... como se só inspirasse... e inspirasse... e inspirasse... Ela lia calada... a tarde estava quente... a piscina refletindo o céu... muito azul... muito azul... muito azul... enquanto passávamos mudas...
      
XXX

O coro das águas profundas

Cabia o céu em nós e era bonito passar alguma nuvem perdida com forma de carneiro ou ave. Tocava-nos uma brisa leve tremulando doce a nossa face. Passava o dia calmo e quente e andorinhas como tesouras negras recortavam o céu. Nós como um recorte geométrico aqui deitadas retangular e rasas Águas. O Outro sorridente entortava passos turvos sobre o gramado. Ela ora lia ora banhava-se em sol dourado. Ele tira a camisa o short o tênis corre e salta. Espirra agita grita brinca mergulha alegre em nós. Geladas. Ele sabe nadar e flutua leve sobre a superfície. O Outro encantado derrama pelos olhos toda a luz do mundo e mudo quase fala. Ele vê no Outro o desejo lhe acendendo a face e o chama. Ela em outros dias com o Outro em nós mergulhara. Ela o segurava sobre nós águas frias rasas ele sorrindo mexendo os braços ensaiando voo. Ela hoje andava cansada e triste e permaneceu ao sol ao longe calada. O Outro vibrava e Ele ria e o chamava sabendo que o Outro não nadava. O Outro tinha os músculos flácido os pulmões fracos mas desejava. Saltou sorrindo de braços abertos como se fossem asas um salto pequeno que mais parecia queda e o céu se abriu sobre seus pés descalços agitava desarticulados os braços as pernas os grandes lindos olhos e pelo sorriso aberto nós  águas entravamos frias azuis celestes por que nenhuma água é rasa o corpo Outro emerge e  novamente naufraga várias vezes enquanto Ele nada nada grita desespera e cala e age e de seus olhos escorre choro água. Ela não ouve. O Outro para. Ele cala. O Outro em silêncio e lento afunda com braços aberto. Parece enfim voar em um céu sem ondas. Um carneiro pasta. Uma ave passa. Ele acha bonito que o Outro deslize sob as águas não mais troncho não mais torto. Todo água. O Outro continua a afundar e afundar porque nenhuma água é rasa. Leva o tempo do mundo até as pontas de seus dedos tocarem os azulejos. Os seus cabelos algas. Ele agora é só. Ele. O Outro não mais luz... Silêncio.


XXX

Coro das horas mudas

Ela ouve... enquanto passávamos mudas... Ela ouve e cala... O que houve?... Ele grita... um grito absurdo... Ela treme e cala... Ela quer levantar... Mas inspira... inspira... inspira... Ela sente que pode explodir... que vai afundar na cadeira... que a pele se rompe... Ele grita... Ela olha... sobre a revista... o Outro se agita... afunda... Ele grita... o nome Dela...  Ela se esconde... atrás da revista... e chora... enquanto passávamos mudas... o Outro cala... Ele cala... Ela cala...   



     
Uma pequena apresentação minha:

Murilo De Paula, sou formado pelo curso de Artes Cênicas da Unicamp. Artista Cênico, atuo um pouco danço talvez escrevo rabisco palavras desenhos qualquer coisa que caiba na voz que se faz entre um e outro. Atualmente faço parte do núcleo de dramaturgia do SESI/Britsh Consil, da Caleidos Cia de Dança e sou orientador de teatro pelo Projeto Ademar Guerra. Rabisquei, cortei e colei o Ancora Zine, e já que o Zine veio a mim com Mãe e Pai me declaro o Amante.