segunda-feira, 28 de novembro de 2011


JORNADA PARA LIMEIRA COM O GARRAFÃO UNDERGROUND



Jornada é uma trajetória que se faz no período de um dia. E a minha, no dia 27 de novembro, começou por volta das 9h00 com um café da manhã reforçado. Pão, queijo, presunto, tomate e o tradicional café preto.

Às 10h00 já estava pronto e no ponto de ônibus para pegar o busão para Ribeirão Preto e de lá, junto com a galera do Garrafão, ir para a cidade de Limeira fazer um som com o Corvo de Vidro e as bandas Drenados, Mano Pinga e seus Comparsas e Necrofobia. 

Quando cheguei ao estúdio do Alex a galera já estava reunida a espera do ônibus que só chegou após às 13h00, mas tudo bem,  sem perder tempo guardamos os instrumentos, nos acomodamos e rumamos para Limeira. No trajeto muita conversa, bebedeira e música rolando.

O som rolou no Kingston Music Bar,  foi a primeira vez que toquei nesse bar. Um espaço muito joia, com vários cartazes colados nas paredes, entre eles um de 1999 que anunciava um som do PPA  com sua primeira formação em Cordeirópolis. Eu fiz parte dessa primeira formação. Que mundo, né??? Após a nostalgia, bora arrumar as coisas para tocar.

Esse evento em Limeira marcou a estreia da TV Garrafa, antes das bandas tocarem havia uma pequena entrevista realizada  por Taciana Ragazzi e Stella Cadurin que se empenharam muito nas entrevistas com os integrantes das bandas. Estou ansioso em ver o resultado desse trabalho.  

A primeira banda que tocou foi da casa mesmo, Keep Coins  de Limeira. Trouxe um vocal feminino que lembrou um pouco Dominatrix e um vocal masculino que me fez lembrar o grande Nenê Altro em alguns momentos. Nas sequência foi a nossa vez, banda Corvo de Vidro. Fizemos uma apresentação curta, mas empolgante. Mudamos a ordem de algumas músicas e acho que isso contribuiu. Começamos com “Incendiário na Terra do Nunca” e emendamos “Doença Imperfeita.” Acho que na real a banda também estava mais à vontade e isso foi muito positivo em nossa performance. Destaque para a participação dos integrantes da banda Go out ( Rafael Olodun e Eduardo Novaes )  que também iria se apresentar, mas infelizmente não rolou, nos vocais da música “Amnésia”  da lendária banda punk Cólera. Esse som foi nossa homenagem, não só ao Redson, como também ao amigo Evandro, baterista das bandas Crônicas e Cane's Foot que faleceu nesse mês.

O Mano Pinga e seus Comparsas foram os próximos e não precisa nem dizer que foi massa demais. Pena o calor lá dentro  ser muito grande e te obrigar a dar umas saidinhas de vez em quando para tomar fôlego. Para abalar de vez as estrutura do Kingston Bar, chegou a vez da banda Necrofobia com clássicos do metal e sons próprios da banda que todos ali sem exceção admiram.  Deu até vontade de ser cabeludo, mas logo essa vontade passou.

Para encerrar nossa noite, surgiu em cena a banda Drenados e seu novo integrante, Rafael Polin em uma das guitarras. Destaque para a vontade de tocar que todos na banda passam. Os caras tocaram o repertório completo, mesmo quando o público já começava a dar sinal de cansaço. “Vambora, já que estamos aqui vamos tocar.” ATITUDE!!!!! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Todos pro busa, bora pra Ribeirão. Quando chegamos já passava das 03h40 e o meu ônibus pra Serrana só sairia após às 05h00. Outros andarilhos juntaram-se a mim de volta para suas casas. Já fazia um tempo que não dava uma boa caminhada como essa. Caminhei sem pressa até a mini rodoviária de Ribeirão Preto. Uns 50 minutos pra chegar. Talvez um pouco mais. Mas valeu...a primeira turnê do Movimento Garrafão foi massa demais e terá que rolar mais vezes, ficam as lembranças que não são poucas. E como em todo fim de jornada o sentimento que fica é de dever  cumprido.




segunda-feira, 21 de novembro de 2011


É APENAS ROCK!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O que me motivou a escrever esse texto foi a história contada por um amigo que num domingo de manhã
( bandas de rock não deveriam ensaiar num domingo de manhã ) foi ensaiar com sua banda na companhia de três latas de cerveja. Um dos integrantes da banda o repreendeu e disse: “ cara, isso aqui é sério!!!” Se estivesse no lugar desse amigo responderia: “ desculpe, mas pensei que isso fosse apenas rock...”
Rock não e coisa séria, nunca foi. Pense nas maiores bandas de rock que já existiram. Quem ali era sério? Eram sim descontentes. Não queriam passar suas vidas trancados dentro de normas e padrões. Muitas bandas acabaram justamente quando um dos integrantes, deslumbrado pela fama, resolve burocratizar a relação de amizade e companheirismo e passa a cobrar dos demais regras comuns a uma empresa. Algumas dessas grandes bandas podem ainda existir, mas não são nem de longe o que eram quando simplesmente tocavam suas músicas sem se preocupar com os julgamento e interesse de possíveis empresários. O público que curti rock sabe reconhecer quando uma banda é honesta. E é para o público que se toca.
Quando toco minha bateria não penso em nada. Eu sou a música que toco naquele momento. As baquetas são uma extensão de meus braços. Faço isso porque gosto. Fiquei dois anos sem tocar por desgosto. Porque as bandas em que tocava antes se burocratizaram e tornaram-se cínicas e perversas. Espero que isso não aconteça de novo.
Cumpro normas e padrões de segunda à sexta-feira. Por mais que eu ame minha profissão sei de minhas responsabilidades. Não falo e nem faço tudo o que penso nesses dias. O trabalho exige uma postura que se aprende a duras penas. Não quero reproduzir isso nos meus finais de semana. Quero ser eu mesmo. Quero tentar ser feliz. O rock é pra isso. Significa isso.


Esse texto é uma homenagem ao amigo Evandro Silva ( in memoriam )  que sempre compreendeu o verdadeiro  espírito do Rock and Roll.



João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.













domingo, 13 de novembro de 2011


EMBRULHOS

Mozzambani

O escritor Luiz Mozzambani Neto de Monte Alto me foi apresentado pelo poeta Nicolas Guto de Ribeirão Preto durante a Feira do Livro de 2009 se não me falha a memória. Depois tive com ele mais alguns encontros esporádicos.  No dia 16 de outubro ambos participamos de   um encontro de Filosofia, Literatura e Música promovido pelo   Coletivo CULTURAMA MACC.

Nesse encontro comprei um de seus livros. Embrulhos. Após pedir ao autor que o autografasse, guardei-o na bolsa e lá ele ficou por uma semana. Certo dia, no ônibus para a cidade de Jardinópolis onde dou aulas, remexi minha bolsa e o encontrei ali no fundo. Comecei a Lê-lo e de imediato, ele passou a fazer parte das leituras que faço a caminho do trabalho, nos dois coletivos que pego. Serrana à Ribeirão Preto e Ribeirão Preto à Jardinópolis.

A primeira coisa que me chamou atenção em Embrulhos foi o cenário em que se passam as histórias. A antiga Fazenda Tabarana, antes dessa ser vendida à usina e transformada em canavial. Não, não conheci essa fazenda, mas tenho memórias de uma fazenda que visitava  na companhia de meu avô quando era criança. E meu avô trabalhou em  uma.  Minha mãe e meus tios foram nascidos e criados na  Fazenda da Figueira. Que teve o mesmo destino da Fazenda do livro.

Gostei do tratamento dado as personagens, como por exemplo,  os animais que   são chamados por nomes de “gente”  e se o leitor não prestar atenção pode mesmo achar que se está falando de uma pessoa.

O trecho do livro que mais mexeu com as minhas memórias de menino se deu no que o autor  narrou a morte de Rafael. Um porco branco que aguçou a curiosidade do “filhote do caipira”  levando  o moleque há um bocado de questionamentos. O porco foi morto pelo pai do garoto.

Lembrei-me nesse instante do noivado de um dos meus primos. Na cidade de Serra Azul. Eu estava sentado na sarjeta, assistindo minhas primas brincarem de pular corda e de olho nos fundilhos da minha prima mais velha que diferente das outras, ainda novinhas, usava calcinha vermelha. Devo a essa parenta muitas das minhas descobertas de moleque. De repente um grito chamou a atenção da molecada para o quintal da casa. "Corram!!!! Venham... o tio vai matar aquele porcão pra festa!!!!!!!”Corri em meio a trupe, mais interessado pelo vermelho da calcinha de minha prima do que pelo vermelho que saltaria do peito do pobre porco.  

Quando cheguei todos os parentes estavam em volta do porco e  meu tio calmamente explicava como seria o assassinato do pobre animal. Até que o pai da noiva disse. “ Deixa eu matar...eu nunca matei um...você me ensina, vai!!!!!” Meu tio deu a faca afiada na mão dele e disse, “enfia aqui, ó...” Nunca assisti cena tão horrorosa. O porco não morria. E o homem não parava de socar aquela faca. Virei de costas, não era capaz de testemunhar aquilo por mais tempo. Foi a desculpa perfeita para o “pai da noiva” dizer, “ é esse teu sobrinho, tá com pena do bicho...desse jeito não vai morrer mesmo.  Culpa desse moleque.” Corri pra fora da casa e fui sentar na calçada com as mãos nos ouvidos. Depois minha prima me contou que meu tio tirou a faca da mão do homem e terminou o serviço numa facada só. O meu tio tinha experiência em matar,  não só porco,  mas vaca, carneiro, alguns diziam que até gente.

O livro Embrulhos,  além das memórias despertadas, me surpreendeu bastante. Ainda mais no final que me deixou perdido sem saber para onde ia aquela narrativa. Recomendo a leitura.  


Luiz Mozambani é escritor independente e militante cultural da AGCIP. Autor dos livros:EMBRULHOS, A CIDADE QUE MATOU A ESTRELA e QUEIMA DO ALHO: alimento do corpo e da alma do peão de boiadeiro. Participou também da Antologia: WEB AZUIS, uma antologia de escritores virtuais.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nimbo

Mais um entardecer...
logo a noite reinará com todo seu
esplendor,
Mais uma vez soberana
Sombras, silêncio. bruma
Vozes retumbam distantes
Alguns pássaros se acomodam
Nas copas das árvores já adormecidas.
Um leve zéfiro gélido e boêmio sussurra
Uma doce mensagem de melancolia
lúgubre
As luzes das estrelas brilham, alucinam
ofuscam
Tudo em volta dos olhos inquietos, circunspectos
O corpo enfadonho, exausto e claustro
O rosto colado naquela janela
Onde as lágrimas frias miscigenam o mormaço
Daquele solitário vulto
Aforismos
Refletidos no espelho
Um moribundo ser com o coração embalsamado
Em seu mutismo e penumbra eterna...

Por: Thina Curtis




Thina Curtis é arte-educadora e  zineira de longa data, é editora do zine Spell Work.  Para saber mais sobre o zine entre em contato por e-mail (tinacurtis11@yahoo.com.br).






terça-feira, 1 de novembro de 2011

Três e meio

Mais um dia no ciclo da narrativa que me presentearam. Eu olho com cheiro de gente tímida e uma risada de bar. Paradoxal, mas completo e eterno leitor de beats. A caminhada do momento era a saudade e um amigo que tinha as palavras em três acordes de um anarquismo bem intencionado. Nos conhecemos no exercício acadêmico, o prazer se dava pela profundidade da poesia e pelas cervejas pós- aula. O papo era regado a punk, fanzines e literatura marginal. Um sonho era a elaboração de um zine nosso, com nossas ideias, textos, conceitos, e tudo que alimentasse nossa gula por cultura.

Dois jovens, uma energia, um canto, Piva, kerouac, Burgess, Agrippino de Paula, Wood Allen , Akira, Mosen, Kundera, Baudelaire, Bukowiski, Thoureau, Salinger, Pistols, Ramones, PPA, Bivar, Renato Alessandro e tantos outros que o caminho justifica.

Do outro lado do estado, ao sul, a terceira margem desse rio meu Grande Amigo- o ator. Esse sim, conhecia todas as máscaras que me coloram e também meus girassóis. Minha dialética intensa e socrática, e mostrava sutilmente uma beleza múltipla de artes. O palco nos uniu e a vida nos afinou na melodia do erro e do barro.

Franca cidade provinciana, pacata e capitalista, morta e bela, restrita e corrente, e elevada a estado de colina. Espaço vivo nos nossos pés. Decidimos depois de muita conversar fazer um fanzine.

Explico com maior devaneio, recortávamos, buscávamos imagens, palavras, sentidos, desenhos, tudo num xerox de prazer e uma árvore baobá de amizade. Nos divertimos, discutimos, entramos em divergência, em paridades, mas produzimos.

Depois de um tempo tiramos as malditas férias humanitista, como diria Quincas Borba, fomos cuidar da fome e do sistema. A saudade começou a corroer as estradas da lembrança, cada um na sua vida distante da própria massinha de verdades. Um lapso e o mundo tecnológico nos colocou frente a frente, viril ironia, e vamos envelhecer novamente nas surpresas dos vocábulos que nos encostam na parede da escolha...

Amizade é fazer um zine como desculpa do encontro e ética com o mundo, apesar de verdade é mais uma colagem.

Para João e Murilo, minhas reticências...

Leandro Rosa Félix , professor, baixista da banda livre docente de Franca e amigo de longa data, é o cara que iniciou o fanzine âncora comigo e que também pode reivindicar a paternidade desse blog.