segunda-feira, 2 de abril de 2012


Âncora vai ao Fim do Mundo, Enfim  

Eram mais de cinco da madrugada de um sábado, 31/03/2012, quando o ônibus vindo de Franca chegou à estação Armênia em São Paulo.  Peguei minhas coisas, desci  e acendi um cigarro para repor a nicotina perdida em mais de seis horas de viagem. Encostado na grade, com o cigarro no canto esquerdo da boca, li as orientações anotadas na agenda para chegar a casa do amigo Murilo ( um dos editores do âncora )  meu anfitrião.  Finalmente, resolvi  entrar,  dispensei meu guimba  de cigarro junto aos outros tantos jogados na calçada de fora da estação.  Meus próximos passos seriam  de metrô até a estação da Sé e depois até Belenzinho. Lá, Murilo me encontraria e iriamos até sua casa. Um pouco mais de dez minutos de caminhada.
No caminho passei de metrô pela estação  Largo de São Bento que já fora  ponto de encontro para os punks. Desembarquei em Belenzinho e liguei para o meu amigo. Quando nos encontramos após  cumprir os protocolos comuns entre amigos: “ Como vai??? Tudo bem??? Há quanto tempo??? Que bom que veio???”  fomos até uma padaria, tomamos um café e conversamos sobre o nosso dia no festival “O fim do mundo, enfim. Uma edição atualizada do festival "O Começo do Fim do Mundo" realizado em 1982 e que marcou a história não só do punk nacional, mas também do rock brasileiro com um novo tipo de atitude e postura. O festival " O Fim do Mundo Enfim", seria uma comemoração desses trinta anos de história do festival. Como escreveu o vocalista dos Inocentes Clemente no fanzine feito para esse festival "um novo festival punk unindo gerações, o velho e o novo juntos, mostrando que o antigo discurso nunca esteve tão atual. Serão cinco dias, 15 bandas e debates, mostrando que o punk continua vivo." 

Após algumas horas de sono e um almoço reforçado, o amigo Tarcísio Hayashi  da banda G.R.A.V.E , que sabia da minha visita, me ligou e disse que estava lá perto de belenzinho e passaria  pra tomarmos umas cervejas. Passamos a tarde de sábado tomando cerveja com o ele e Barbara Ramos, mais tarde juntou-se a nós o Gago, também integrante da banda G.R.A.V.E.  Na carona para a estação de metrô ouvíamos a música “desequilíbrio” na voz de clemente. Disse ao Murilo que estava  sentado ao meu lado.” Esse som é clássico. Quem o compôs foi um punk chamado Índio, vocal das bandas Condutores de cadáver e Hino Mortal.”  

Pegamos a máquina fotográfica na casa da namorada de Murilo, tomamos mais algumas cervejas e comemos uma pizza em um bar da rua Augusta e rumamos para o Sesc Pompéia.
Para a nossa surpresa, chegamos no momento em que Jão e Boka da banda Ratos de Porão davam uma entrevista, no final da rua de paralelepípedo do Sesc. Assistimos de lado, sem  atrapalhar e Murilo tirou  algumas fotos. Ao fim da entrevista, chamei por Jão e lhe disse que era de Serrana e ele se lembrou do som que fizeram no CBGB caipira em 2001.  Ele comentou: “Pô, cara. Saiu de lá pra vir até aqui hoje. Legal. Bom som pra vocês aí.” Sem perder tempo deixei um zine do âncora com ele e tiramos uma foto. Lembrei-me que essa foto era um repeteco de uma tirada em Serrana há mais de dez anos. A diferença foi o físico que mudou de lá  pra cá e a cerveja que Jão tomava que era de outra marca.
Não demorou muito para que me encontrasse com Ariel, vocalista das bandas Restos de Nada e Invasores de Cérebros que seria uma das bandas a tocar nessa celebração que estava prestes a começar. Também deixamos um zine com ele. Nas costas da jaqueta jeans, mostrou-nos um desenho que havia sido  presente de Seko. Amigo e tatuador, morador de bom Fim Paulista, cidade próxima a Ribeirão Preto.   Já eram 21h00 e os punks começavam a chegar em maior número.  Jovens, velhos e não tão velhos ou jovens assim. Todos queriam testemunhar essa noite de celebração.  Alguns já tinham ido às noites anteriores, mas para mim seria só aquela noite, já que o som do domingo foi adiado para outra data, ainda não divulgada. Estava ansioso. Enfim, entramos. Fanzines sobre o evento eram distribuídos. Pegamos alguns e deixamos outros nossos disponíveis para quem quisesse ler ou apenas ver.  Assim que entramos demos de cara com o Índio e o Murilo pôde conhecer o compositor do som que ouvimos no carro. Mais tarde também o viu em ação em uma participação especial no som dos Invasores. Cantou junto com Ariel o clássico Desequilibrio.
A primeira banda da noite foi a Question que já tem quase 12 anos de estrada. Une metal e hardcore em seu som.  Tocaram pouco, já que a galera presente queria mesmo era ouvir Invasores e Ratos.  Aos gritos de “Fim do Mundo, Enfim o Caralhoooo!!!!” Ariel adentra o palco e  começa o som dos Invasores de Cérebro. Não poderia ser melhor. Ariel mandou ver nos vocais. Tocou os grandes clássicos da banda. E não deixamos por menos. Pogamos pra valer e gritamos contra tudo que nos oprime nessa vida miserável. Cantamos juntos “  Eu sei que arrancaram das páginas escritas...o meu direito a preguiça!!!” “ Porra de vida, porra de vida, porra de vida, você não vale merda nenhuma” e tantos outros clássicos. Ah!!!! Ariel também não se esqueceu de orar e agradecer a deus. “deus não existe e não faz faltaaaaa...”. A performance de Ariel é de uma verdade comovente. Assista ao vídeo com trechos dos dois sons, Invasores de Cérebros e Ratos de Porão ao final do texto e confirme o que escrevo.
Cansados, saímos para tomar uma cerveja para em alguns minutos assistir aos Ratos de Porão.
 Repostas as energias voltamos aos nossos postos. Jão, Boka e Juninho subiram primeiro ao palco do Sesc Pompéia. Pensei até que iam começar com Jão nos vocais já que na primeira formação da banda era ele quem cantava, mas não,  logo no primeiro acorde entrou João Gordo, menos gordo que a última vez que o vi. Estava com um humor incrível também. Não se estressou com nada, Nem mesmo com um rapaz que  subiu ao palco e tomou da sua cerveja. Tocaram sem repertório. Decidiam ali no momento, pedindo auxílio do público que tinha todas as músicas na ponta da língua. Trata-se de uma banda de trinta anos que fez história e que ao lado de outras é a própria história que não li nos livros, vivi na pele. Gordo lembrou-se de Redson e disse a todos. Faltou você aqui Redson.

Já era mais de meia noite quando saímos do Sesc e pegamos um busão até outra estação de metrô e de lá fomos até a rua Augusta onde Murilo e eu terminamos a noite entre uma cerveja e outra. Entre lembranças e novas histórias a serem contadas em outras ocasiões.

Clique no link e confira o vídeo editado por Murilo de Paula com imagens dos sons Invasores de Cérebros e Ratos de Porão no festival O Fim do Mundo, Enfim: http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=AysE0zxpaRQ




Fotos e vídeo:

Murilo De Paula, sou formado pelo curso de Artes Cênicas da Unicamp. Artista Cênico, atuo um pouco danço talvez escrevo rabisco palavras desenhos qualquer coisa que caiba na voz que se faz entre um e outro. Atualmente faço parte do núcleo de dramaturgia do SESI/Britsh Consil, da Caleidos Cia de Dança e sou orientador de teatro pelo Projeto Ademar Guerra. Rabisquei, cortei e colei o Ancora Zine, e já que o Zine veio a mim com Mãe e Pai me declaro o Amante.



Texto:

João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.