domingo, 22 de julho de 2012

VIVIAN




Ela era a namorada de um amigo. Na verdade, namorada do amigo de um amigo. A primeira vez que a viu, foi em um bar. Entraram de mãos dadas.  Jonathan estava de costas para a entrada e não viu a chegada do casal. Os outros três amigos que compunham a mesa com ele é que disseram:  “ Olha lá, o Tadeu. Aquela deve ser sua nova namorada.”
Antes que Jonathan se virasse para olhar, sentiu em seu ombro a mão direita de Tadeu que disse: “ E aí galera!!!! Essa é a Vivian!!!!” Em seguida puxou uma das cadeiras da mesa para que ela sentasse.  Pediu a Gustavo para que desse um espaço e pudesse sentar-se próximo a namorada. Eduardo sugeriu pegar mais uma mesa, mas Tadeu disse que não ficaria muito tempo e que logo iriam embora.
A garota era tímida e quase não conversou.  Já o namorado como de costume falava muito. Jonathan também se calou por alguns instantes. Estava incomodado. Por alguma razão, sentiu-se atraído por Vivian. O jeito tímido, a maneira como mexia em seu cabelo e pegava no canudo para beber sua soda. Os dentes afiados que exibia quando sorria.
Antes mesmo de terminarem de beber seus refrigerantes foram embora. Vivian insistiu para irem. Jonathan teve medo de que a garota tivesse capturado algum dos olhares que lhe fora lançado. Mesmo sendo amigo do amigo, não era uma lá muito correto paquerar uma garota comprometida. 
Depois que saíram, Jonathan comentou com Juliano. “Que bonita a moça. Tadeu deu sorte.” Juliano deu mais um gole na cerveja e respondeu: “Não achei, muito sem graça essa menina.” Todos riram, menos Jonathan que encarou a brincadeira como uma ofensa, mas permaneceu calado para que ninguém desconfiasse de sua paixão.
Os acontecimentos que se seguiram depois desse primeiro encontro foram estranhos. Sempre que Vivian cruzava com Jonathan nem ao menos o cumprimentava. O desprezo era a certeza que se confirmava em seu coração. Ela jamais seria sua.  Quando se cruzavam nos bares, Vivian cumprimentava a todos com um beijo e a Jonathan nem ao menos acenava. Todos percebiam que Vivian não gostava dele e ninguém entendia a razão disso.
Passados alguns anos, Vivian e Jonathan reencontraram-se naquele mesmo bar. Uma estranha coincidência. Ela estava sentada e acompanhada de uma amiga. Ele passou por ela umas duas vezes sem sequer olhá-la. Numa das vezes ouviu a voz de Vivian convocando-o a fazer-lhe companhia. A amiga havia ido ao banheiro. Os dois passaram o resto da noite conversando tudo o que não conversaram durante anos. A amiga nunca mais voltou do banheiro.  Nas semanas seguintes passaram a se encontrar com uma intensidade crescente. Jonathan chegou a pensar em se afastar de seus vícios. Do cigarro, das bebidas, da música. Enfim, da boemia por ele tão querida. Difícil decisão que envolveria toda uma vida de exageros etílicos regados a muita diversão em noites de esbornia que teria de ser abandonada por uma mulher. Nada muito original, mas valeria a pena. Será?! Olhou a sua volta e deparou-se com a vida. Os amigos, a bebida, o sexo livre de tabus e obrigações adquiridas. A sua frente havia Vivian. Bonita e inteligente, mas com sonhos de casamento, proteção, responsabilidade e fidelidade conjugais. Quem era ele para negar isso a ela? E quem era ela para lhe tomar a vida? Jonathan não achou que esse era o momento de aceitar aquela morte em vida. E não se sentiu capaz de realizar todos os pretensos sonhos de Vivian, considerados por ele vazios. Pensou em dar tempo ao tempo. Deixar que ela vivesse as coisas que sonha e quem sabe um dia não houvesse um terceiro encontro  em que um ou outro fosse menos egoísta em suas decisões. 
Conscientes da separação, tiveram a noite de amor mais intensa de suas vidas. Ao acordarem de manhã. Logo após o café regado a muitos risos e brincadeiras. Despediram-se sem beijos. Mais uma vez Vivian deixou a vida de Jonathan, mas agora eram amigos, não apenas conhecidos.
Vivian foi embora, talvez pra sempre, mas ainda havia bons livros na estante da sala, cigarros na gaveta da cômoda e cervejas na geladeira.




João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo, troque o pano de fundo, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.