domingo, 16 de setembro de 2012

As eleições e a falácia da democracia representativa



                
O Brasil é um dos países campeões não apenas em corrupção, mas também em partidos e candidatos fisiológicos, os quais são essenciais para a manutenção dos próprios esquemas de corrupção e manutenção da ordem política hegemônica, que privilegia setores específicos da sociedade. Os fisiológicos não se preocupam com coerência ideológica, com programas bem construídos, com propostas realizáveis e que busquem o bem-comum. Sua ideologia consiste, sim, em tirar o máximo proveito pessoal e de seus pares, utilizando estratégias como clientelismo, favorecimentos, aparelhamento de cargos e instituições, inclusive de Conselhos e instâncias de representação da sociedade civil. O fisiologismo, porém, está na própria estrutura governamental, pois observamos, por exemplo, como partidos de “esquerda” associam-se aos setores e partidos mais conservadores e elitistas da sociedade, e como há uma enorme incoerência entre seus programas e objetivos de governo com as práticas políticas, posicionamentos e alianças que estabelecem, notadamente envolvendo dinheiro e corporativismo.
 Ao mesmo tempo, uma enorme maioria da população desconhece ou pouco se interessa em conhecer e avaliar os fundamentos ideológicos, os programas e as diretrizes dos partidos. Votam na pessoa que parece legal, no “menos pior”, no amigo, no amigo do amigo, no cara que ele conhece da igreja, no que está em segundo lugar para não eleger aquele primeiro na pesquisa de opinião, no que deu um churrasco ou um botijão de gás. Temos, ainda, o fenômeno de alianças pré-eleitorais, onde em troca de dinheiro e apoio para campanhas, se monta toda uma estrutura de troca de favores. Ou seja, quem tem mais dinheiro e alianças com setores econômicos e midiáticos de peso tem mais chance de ser eleito. E para estes servirá o governo.
A mídia de massas transforma consciência política em “votar com consciência”, resumindo a conhecer se o sujeito é bom caráter, tem ficha limpa e se não faz promessas enganadoras. O cidadão, aquele transformado em consumidor e em eleitor, é reduzido de sua dimensão de sujeito político e a estrutura de poderes permanece inquestionada. A corrupção, a falta de representatividade, a dissociação entre governo e sociedade civil, as gestões incompetentes, são reduzidas a uma análise ingênua e superficial que busca indivíduos e partidos sujos, que apela a ignorância da população. Reforma política é uma questão que poucos ousam tocar e as organizações apartidárias da sociedade civil são temidas ou com vistas a cooptação, manipulação e esmagamento.
A eleição é uma ilusão formatada de que vivemos num país democrático. É um instrumento que, dentro do atual esquema político, serve mais a garantir o jogo de poderes entre oligarquias econômicas, seus vassalos e peões. Sem uma ampla reforma política, sem a desburocratização do Estado, sem o desaparelhamento da administração pública, sem o empoderamento da sociedade civil e a criação de uma esfera política com ampla participação dos cidadãos nas decisões e políticas públicas, pouco se avançara no desenvolvimento de uma democracia participativa, esta sim capaz de transformar o voto em um dos instrumentos legítimos de ação política democrática.

                                                                                                   por: Lígia Poggi Pereira