segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Explana Rock 2012

"Foi assustador, (no bom sentindo) as paredes tremiam, os vidros vibravam e os ouvidos queimavam ao som pesado da banda..." Alan Belíssimo

o texto abaixo é uma colaboração do blog da banda Corvo de Vidro http://corvodevidro.blogspot.com/2012_01_01_archive.html#8597000460066917297



Vou te contar uma coisa...
Sabe aqueles shows, que você assiste, participa, não enjoa, não cansa e quando vê já acabou, mas você espera até o ultimo minuto para aproveitar o ambiente e o clima de confraternização?Então, dia 28/01/12 aconteceu o primeiro Explana Rock organizado pelo Movimento Garrafão Underground, e tudo descrito acima foi o que aconteceu.
O evento previsto para acontecer em frente a Esplanada do Teatro Pedro II, deu início as 12:00 hrs.

Devido ao tempo nublado, com possibilidade de chuva forte, transferimos o evento para dentro do Palacce, mais precisamente no pátio do Hotel.
Mais ou menos as 12:20, a Banda Abiosi tomou conta do espaço e mandou primeiro seu primeiro som.
Foi assustador, (no bom sentindo) as paredes tremiam, os vidros vibravam e os ouvidos queimavam ao som pesado da banda.
A galera foi se aglomerando, e começou parecer uma panela de pressão em ebulição total.
O show durou cerca de 80 minutos, não sei ao certo, pois desde o início do evento, me desliguei do espaço tempo e fiquei anestesiado apenas curtindo tudo que estava acontecendo.
Após o termino de Abiosi, Veio então Drenados com um puta Hard core, Punk, sei lá qual estilo, só sei que o som estava perfeito, 2 guitarras, baixo, bateria e vocal, como se fosse a reprodução de um Cd.
e lá foram mais uns 80 minutos de show, onde surgiu a primeira roda de dança UFC do rock.
Pulos, esbarrões, cotoveladas, mas tudo sem violência, uma dança apenas para expressar e aliviar a tensão que jovens sentem nos dias de hoje.

Sai para fumar um cigarro, 3 minutos depois (o tempo de fumar o cigarro) não consegui meu lugar de volta, pois já haviam tantas pessoas, que estava parecendo uma final de um clássico de futebol.
Pessoas se aglomerando, se apertando, curiosos tentando ver o que estava acontecendo, o pessoal do canto lirico do Palace, observando e curtindo o momento.
Foi bom ver os amigos, beber cerveja com alguns, abraçar outros e ver os shows com todos.

Após Drenados, veio Raimundera, cover de Raimundos.Foram mais 30 minutos de Rock na veia, ai sim o bicho pegou mais ainda.Não tinha por onde escapar, as pessoas se amontoando o som rolando, tudo perfeito. Mais até do que nós havíamos pensado sobre o evento.
Encerrando o Explana Rock, era hora de dar tchau, mas quem disse que esse povo louco ia embora?!Galera o show acabou! E dai? Quero é ficar, quero é morar nesse evento! Quando rola outro?...
E tudo isso aconteceu em um sábado, ultimo de janeiro, primeiro evento do ano e, ficou marcado como ferro quente em boi.
O que nos deixou ainda mais felizes, foi o fato de 99% daquelas pessoas, nunca terem entrado em um espaço cultural e principalmente no Palacce, um marco histórico de nossa cidade.Inclusive eu, que pouquíssimas vezes entrei e observei um local tão lindo e produtivo de nossa cidade.
E foi assim que o meu sábado correu, com música, satisfação e cultura para nunca esquecer...


          Bellissimo-Guitarra e Vocal do Corvo de Vidro.                            

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Texto "Uma Noite"

Lá está ela, banhando seu corpo cansado. Daqui ouço-a espumando as pernas. Vejo a luz amarela do banheiro. O chuveiro silencia. Sinto então o cheiro doce e quente do cigarro que acende depois do banho.Nada como fumar um cigarro com os cabelos molhados, a sensação de que algo fresco está acontecendo. Como uma festa. Tirando o fato de que vamos pouco à rua e que parei de fumar, a vida realmente é uma festa. Eu é que sempre chego ao fim, quando a comida está gelada e a música parou. Ela então demora mais que o habitual. O que estará fazendo? Logo vejo. Volta só de camiseta, com dois copos de conteúdo estranho e os lábios de batom. Pequeno detalhe que meus olhos notam.
_ Já desocupei o banheiro. Pode ir.
_É. Eu percebi quando te vi do meu lado. – Agora sei. Um Martini gelado como só os vencedores podem beber. Só duvido que eles o sorvam com a mesma boca boa que eu.
Termino o copo. Um pequeno beijo segurando seu queixo. Tiro a roupa, ligo o chuveiro. A água vem quente e forte. Lava meu suor, meus músculos, meus pecados. Tudo se mistura formando um líquido negro sugado pelo ralo. Na mente uma sensação de vazio. Fora o dia? Ou o cansaço. Em verdade não chega a ser vazio completamente. Havia várias imagens soltas. Carros. O almoço bom. Alguns papéis. A cidade.
_Pegue a toalha.
_O quê?
_A toalha.
Mais um copo.
_Você quer ouvir música ou assistir TV?
_Tv.
_Como foi seu dia? – eu de uma forma ou de outra sempre acabava perguntando por alguns motivos mais ou menos razoáveis. Para ouvir sua voz. Para saber de algo novo que eu deveria saber. Para que pudesse ser solidário à sua solidão. Para sentir ciúmes.
_Hum... de manhã... – e me narrou aquilo que se repetia todo dia, alisando meu peito. As merdas diárias que qualquer secretária precisa passar.
_Me beija de novo?
Beijo. A boca, as orelhas, a nuca. Beijo os seios. Beijo as coxas, os pés. Beijo o sexo. Deitar-me com ela após um dia ruim, substituir o gosto amargo na boca pelo doce de sua pele. Não sentir a solidão que me ulcera as entranhas. A vida parece ter dado errado em algum momento.
A casa pequena me oprime. Sinto-me humilhado pelos copos feios, alguns lascados. Meus objetos vagabundos, frutos da minha vida trôpega, me lembram a todo momento o que deveria ter sido e nunca fui. Olhá-la cansada, as mãos machucadas, o olhar lento e apaixonado, todas suas tentativas de formar um lar ao meu redor, tudo isso me amarga. Eu poderia ter escalado o mundo e lá de cima ter jogado moedas de ouro para todos os mendigos. Ser um homem, amá-la, ter filhos pelo amor de Deus! Ter um jardim e arrancar algumas flores quando a paixão me tomasse ou simplesmente para lhe lembrar como é impossivelmente linda. Termos malditos copos decentes e celebrar nossa quase finda juventude ao invés de lembrarmo-nos a cada movimento que somos feitos de uma carne densa e dolorida. Quero-me esquecer que trabalhamos como miseráveis e que dificilmente mudarei nossos destinos.
_Tem pernilongos demais! – coçando o joelho branco e pontudo.
_Amanhã compro inseticida. – meus olhos ardendo pela claridade da TV. Pego-a me olhando bem no fundo.
_O que foi?
_Nada meu bem. – mas era. Ela nada havia comentado desde o dia em que disse que havia lhe traído. Apenas este olhar triste. Por que não gritou comigo? Por que não me ofendeu ou foi para cama com qualquer um que adoraria fazê-lo? Por quê tinha que me mostrar que eu havia sido um desprezível e gritado com seu silêncio que eu havia lhe T-R-A-Í-D-O? No entanto, apenas o silêncio e este sofrimento de quem ama.
Tiro a camiseta e sua nudez agarra meus olhos. Como um homem pode se deitar com uma mulher todos os dias há mais de cinco anos e mesmo assim ficar louco por seu corpo é uma dessas coisas que nunca se explicarão realmente para mim. Esquecemos a TV. Esquecemos os copos e nos entregamos à energia do amor, sempre mais do que sexo. Amo-a e o produto de nossos encontros é sempre algo imaterial e disperso que resiste em nossas veias até o próximo dia. Lutamos e vencemos um ao outro. Sempre o exagero quando falamos de nós mesmos, mas poucos conhecerão a força e sinceridade do que é se deitar com uma mulher com a sensação de que não haveria nada melhor debaixo do sol a se fazer do que o que se está fazendo. É uma ilha em meio ao concreto, aos baixos salários, às palavras tortas e às ilusões declinadas. Ela vem com algumas latas de tinta, abre-as sem que eu as note e joga com força sobre a minha vida. Vermelho em meu sexo, roxo em meus olhos, verde nas ruas, azul nos meus sonhos. Vejo-me mergulhado num arco-íris em chamas após um dia cinzento e arenoso. Amar talvez transcenda nossos corpos fugazes e continue mesmo quando estivermos apodrecidos e nossas almas estiverem vagando pelo infinito, lado a lado.
_Eu te perdôo. – ela disse, aceitando-me, e dormiu com o rosto em minha mão. Chorei sem som e adormeci, perdoado.

View Agora sim.jpg in slide show
Curta biografia:

Ulisses Pinheiro Lampazzi, nascido em 1987, sempre acreditou ser poeta. Formou-se em História pela Unesp em 2009 e atualmente trabalha nesta área, mas continua errando e acertando nos vastos campos do lirismo. Na formação de sua personalidade, misturou Allan Kardec com Jack Kerouac e deu no que deu. Compaixão e vontade de viver a vida como uma fruta aberta. Sejam bem vindos.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ESSA É A PRIMEIRA ENTREVISTA DO ÂNCORA, ESPERAMOS FAZER MAIS EM 2012

Conheci o Estúdio Garrafão em meados de 2011,  quando passei a ensaiar lá com a banda Corvo de Vidro. Já conhecia o Alex há muito tempo, já chegamos a viajar juntos para tocar em Mauá - SP. Ele no Drenados, eu no Íbis. Com o tempo os ensaios do Corvo de Vidro passaram a ser em definitivo no Alex  por uma série de razões. Entre elas o integrante fixo de todas as bandas: um frigobar abarrotado de cerveja, refrigerante e até água. É um estúdio que sabe conquistar a clientela. Abaixo você confere uma entrevista feita com o proprietário do Garrafão, Alex Drenados.



1. Como e quando surgiu a ideia de montar um estúdio?
Alex: O estúdio começou no final de 2008. Eu já vinha ensaiar com minha banda. Aqui  era um estúdio caseiro. Já tinha a intenção de ter um estúdio e o dono do lugar também, mas não tinha tempo pra isso, ele então deixou o estúdio na minha responsabilidade.

2. Nesse tempo, muitas bandas passaram pelo Estúdio Garrafão. Cite quantas você se lembrar?
Alex: Foram muitas bandas. Muitas... não vou me lembrar de todas  e aí fica chato, né? Mas as que estão sempre aqui são a Corvo de Vidro, Drenados, Velhus Tempus, Mano Pinga e seus Comparsas e Go Out... a maioria de sons autorais e isso é muito bom pra música independente.

3. Quais as dificuldades em se administrar um estúdio em Ribeirão Preto?
Alex: Primeiro de tudo os custos. Não é barato manter os equipamentos. Depois as outras contas como o aluguel por exemplo. No começo tive que investir grana do bolso para manter o estúdio funcionando. Não foi fácil, mas valeu a pena investir.

4. O clima no estúdio é sempre de muita descontração. Sempre foi assim? Ou os amigos com o tempo foram tomando conta? rsrsrsrs...
Alex: Os amigos dominaram mesmo, viu cara rsrsrsrs...No começo chegam tímidos, mas logo ficam à vontade.  O clima no estúdio é muito descontraído. A dominação dos amigos é positiva para o estúdio rsrsrsrsrs.

5. Nesses três anos de Estúdio, histórias engraçadas não devem faltar. lembra-se de alguma?

Alex: Nossa cara, são muitas. Todo dia acontece alguma coisa engraçada rsrsrsrs. Fica difícil dizer. O clima aqui é muito descontraído. Nesses três anos nunca saiu uma briga ou discussão mais calorosa. A galera se diverte. Tomam uma breja, falam besteiras e às vezes se desequilibram e caem. Eu mesmo já caí umas duas vezes kkkkkkkkk....Só colando aqui pra ver e rir junto.

6. O fato de você tocar no Drenados e sua proximidade com as bandas do underground de Ribeirão Preto, fez com que você estivesse sempre envolvido direta ou indiretamente na organização de eventos. Fale-nos sobre o projeto Garrafão Underground e suas expectativas quanto ao sucesso desse movimento.

Alex: As expectativas são as melhores possíveis. A galera que compõe o Garrafão sempre existiu. Sempre estiveram por aí. Cada um no seu corre.  Com a sua banda. Após a realização do Arena Rock 2011 a galera botou mais fé nessa união e “tamô aí..” .Já organizamos duas Intervenções no ano passado, além de uma rolê  massa  para Limeira com as bandas autorais do movimento. E em 2012 vai rolar mais, muito mais, é só ficar ligado e aparecer para prestigiar.



7. De onde veio o nome Estúdio Garrafão Underground?

Alex: O nome já existia antes do Estúdio. Garrafão Moto Cana era o nome de uma galera com a qual andava de moto. Resolvi usar esse nome para batizar o Estúdio. E underground tá  na cara, né “veio”, sempre pertenci a esse meio rsrsrsrs.

8. Quais os planos para o Estúdio em 2012?

Alex: Gostaria de  tornar o Garrafão não só um estúdio para ensaio de bandas, mas poder também gravar essas bandas. Quem sabe esse ano o Garrafão não comece a fazer isso. Penso até em um Selo com o nome Garrafão. Já pensou que massa, cara.

9. Para encerrar faça suas considerações finais e convide as bandas e as pessoas para conhecerem o Estúdio Garrafão Underground.

Alex: Pô, quero agradecer ao Âncora Blog a você João e aproveitar esse espaço para convidar a galera para conhecer o Garrafão, sem compromisso. Traga seus amigos, monte sua  banda e ensaie aqui porque o clima é muito massa. Se vier uma vez vai querer voltar mais dez.
localização: Rua Jorge Fazolin, 97 - Ribeirânia ( atrás da Telha Norte )




 *todas fotos dessa entrevista por Bebel Fotos...

domingo, 1 de janeiro de 2012


Os rumos que a vida toma... 



Véspera de ano novo. Estou na Mini Rodoviária de Ribeirão Preto. Espero pela carona de Alan Belíssimo até a casa de Letícia, namorada do amigo Alex Drenados. Lá iremos nos reunir com os amigos e passar a virada. São Dez horas e o aLan só poderá   me pegar às onze horas.  Tinha tempo de sobra pra tomar umas cervejas, fumar uns cigarros e pensar na vida. 

Está chovendo, ora muitos pingos, ora poucos, mas bem molhados pingos de uma chuva que parecia sem fim. Compro uma cerveja no posto e acendo um cigarro. Do outro lado da rua um mendigo se protege debaixo do  toldo da banca de jornal e revistas que está fechada. São poucas as pessoas na rua. O homem mal trapilho,  enrolado em um cobertor do outro lado do asfalto, de repente me chama, não pelo nome, claro. Não nos conhecíamos. Já o tinha visto alí várias vezes, embrulhado em seu cobertor. Olhando para dentro de uma sacola plástica de supermercado...lá guardaria certamente os seus pertences, suas lembranças, talvez dias felizes, porque todos já tivemos dias felizes, mas nunca sabemos ao certo quando esse momento acontece. Só quando eles passam e se tornam lembranças.  Aí sabemos que foram felizes.

O mendigo se comunicou comigo por um gesto, imagino que universal. Levou sua mão direita a frente de sua boca, ergueu apenas dois dedos, o indicador  e o do meio. Numa intenção clara de me pedir um cigarro. Aprendi com a boêmia que cigarro não se nega. Isso me foi dito certa vez em um balcão de bar. Nunca mais esqueci. Quando me pedem dinheiro na rua, dificilmente dou. Não me sensibilizo com as desculpas que encontram para justificar seus pedidos descabidos, mas cigarro, nunca neguei. A chuva havia dado uma pequena trégua, então atravessei e entreguei um cigarro ao velho que nem sequer me agradeceu. Voltei para o outro lado e acendi mais um cigarro.

A cada tragada no cigarro uma dúvida diferente me incomodava a respeito dos rumos que tomam nossas vidas. Atravessei novamente a rua, dessa vez fui até o posto comprar mais uma cerveja. Ainda estava com a mente incomodada com o contato que tive há pouco instante com o velho da sacola plástica.   Dirigi-me ao caixa e quando fui tirar o dinheiro da carteira fui surpreendido por uma voz familiar. “ ô....rapaz!! como vai??” Era o atendente. Um conhecido dos tempos de escola. O uniforme havia impedido que eu o reconhecesse antes. Uniformes anulam pessoas. É pra isso que eles servem. Anulam pessoas e sentimentos. Naquele instante vi apenas um atendente impedindo a minha saída do posto para que eu pudesse enfim tomar minha cerveja, fumar mais um cigarro e curtir meus pensamentos. Disse oi ao rapaz que me era familiar. Perguntei sobre o fato de trabalhar na véspera de ano novo. Se teria um horário especial a ser cumprido para que pudesse estar com os amigos ou com a família. Ele respondeu:  "nada...vou sair no horário de sempre...o que importa para o patrão é ganhar dinheiro." Os funcionários que se fodam.” Vi que demorava em me devolver o troco. Pensei. “Acho que esse cara tá querendo ficar com meu troco.” Lembrei-me de onde conhecia aquele rapaz. Havia estudado na mesma sala que eu e era um folgado. Achava-se o malandrão do colégio. Senti um pouco de raiva naquele instante.  “Meu troco, eu quero meu troco.” Calma, já vou te dar. Com um sorriso no rosto entregou-me somente as notas. “As  moedas rapaz, também quero as moedas.” Finalmente, já com o seu sorriso desfeito, o cretino me entregou as moedas. Desejei-lhe um feliz 2012 e sai. Atravessei de volta a rua e acendi outro cigarro. Que rapaz folgado aquele do posto. Ainda se me pedisse, mas não, já foi ficando com o troco. Lembrei-me da vez em que me roubaram o lanche na escola, nunca soube quem havia sido o autor que se aproveitou da confusão de alunos a frente da cantina e aproveitando-se de minha baixa estatura, alcançou o lanche antes de mim. Agora não tinhas dúvidas de que foi aquele cara que surrupiou o meu sanduiche.  Aquele mequetrefe...Maldito!!!!!

Chegou então um senhor e sentou-se ao meu lado. Um senhor de camisa azul. Esperava um taxi para a casa da irmã, mas estava na dúvida se seria bem recebido pelos familiares porque havia presenteado o sobrinho, que acabara de tirar sua habilitação de motorista,  com uma moto.  Perguntou-me. “você é militar?” Respondi que não. “ pois parece...tem pinta de militar.” "Não sou não." Respondi.  "Só estou com vontade de matar alguém por uma coisa que talvez nem se lembre que fez, mas sei que ele fez e quero matá-lo. Se eu fosse militar teria uma arma e faria isso com certeza no fim do expediente, quando ele saísse do posto.” O velho me disse que era aposentado da Policia Civil e que tinha uma pistola ponto 40 ali com ele caso eu precisasse. “Não tô mesmo a fim de ir à minha irmã, fico aqui com você e a gente pega esse vagabundo na calada da noite. Meu apartamento é logo alí. Lá tem bebida. A gente fica lá observando ele e quando sair a gente segue o desgraçado. Só que você que irá apertar o gatilho. Certo? Dei outra grande tragada em meu cigarro. Precisava daquele breve instante para pensar. Ah!!! Os rumos que a vida toma!!!! Uns tornam-se mendigos...Outros frentistas de um posto...e outros  policiais aposentados,  frustrados e alcoólatras e eu estava prestes a tornar-me um assassino de um praticante de bullying.

Nesse momento olho para meu lado direito e vejo um UNO. Identifico o motorista. Era o Alan, sua namorada e seu cunhado. Minha decisão estava tomada. Olhei mais uma vez o aposentado e lhe disse. “olha, chegou minha carona. Sugiro que você passe a virada de ano com a sua irmã. Feliz ano novo”.  


 João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo, troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.