foto: Emilson Roveri |
José Pacheco para aqueles que ainda
não sabem ou conhecem apenas um pouco sobre ele, além de educador, é o idealizador da Escola da Ponte, em Portugal,
instituição que, em 1976, iniciou um projeto no qual os estudantes aprendem sem
salas de aula, divisão de turmas ou disciplinas. Loucura???? Nem um pouco. Possível??? Demais. Nas palavras
do educador essa estrutura com a qual já nos acostumamos é o
principal empecilho para que as coisas aconteçam de fato e a educação não seja
apenas gráficos e números em um papel e passe a fazer parte do dia a dia de
alunos e professores sem as amarras institucionais das hierarquias e
burocracias "O que fiz por mais de 30 anos foi uma
escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor
escola nas provas nacionais e nos vestibulares" Um dos momentos mais libertadores e sensato
do bate-papo foi quando o professor disse. "Dar aula não serve para nada. É
necessário um outro tipo de trabalho,
que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão." Nesse momento
olhei a expressão dos colegas e lembrei-me de que era a mesma que avistei em
2006. Os aplausos foram inevitáveis. Afinal, todos naquele auditório sabem
disso e já se questionaram a esse
respeito. A aula em si não propicia nenhuma mudança substancial e que se o
conhecimento não for significativo, nada acontece.
Por meio de seu método socrático,
o português respondeu a todas as
perguntas feitas com a máxima propriedade de quem vivenciou experiências o suficiente,
nessa área tão complexa que é a educação. Mostrou saber mais do que todos nós
sobre os nossos educadores. Dois dos educadores
citados por ele foram Eurípedes Barsanulfo (1880-1918) http://www.saudadeeadeus.com.br/filme26.htm e Tomás Novelino (1901-2000) http://desmanipulador.blogspot.com.br/2012/10/biografia-tomas-novelinoeducador.html
que só conheço porque saía com uma moça
espírita.
Falou
sobre a autonomia do professor que não pode nunca ser deixada de lado.
Provocou-nos a debater e criar projetos em nossas escolas dentro dos princípios
autônomos, que nos leva a refletir sobre nossa própria conduta em sala.
Espero que todo o entusiasmo
demonstrado ao fim desse encontro pelos professores que restaram, reflita em ações, debates e aproximações com
aqueles que pensam diferente. Sei que é difícil. Divulguei esse encontro para
muitos colegas e muitos deram de ombro e questionaram a eficácia desse
trabalho. Preferem continuar com o masoquismo existente dentro das salas de
aula, até que os antidepressivos e calmantes já não façam mais efeito e enfim
possam se aposentar com aquele papo furado tão comum em HTPC ou quaisquer
outras reuniões pedagógicas de que a educação no Brasil não vai pra frente.
Ouça agora o som da banda Garotos
Podres sobre o ambiente escolar. Só um detalhe, o vocalista dessa banda também
é professor.
Escolas
Garotos Podres
Nas escolas
Onde a cultura é inútil
Nos ensinam apenas
A sentar e calar a boca
Para sermos massacrados
Pelo discurso reacionário
De professores marionetes
Controlados pelo Estado
Nas escolas
Você aprende
Que seu destino já está traçado
Pois querem os transformar
Em Cordeirinhos domesticados
Prontos pra serem transformados
Em operários escravizados
Querem nos transformar
Em máquinas
Para submetê-los
A cadência do trabalho
E horários embrutecidos
Pelos carrascos ponteiros do
relógio
Me mandaram à escola
Para me dominar
Me mandaram à escola
Para me manipular
Me mandaram à escola
Para me escravizar
Me mandaram à escola
Para me domar
João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.