Porta trancada, janela com uma fresta aberta e a imprestável
programação da TV como trilha sonora de um cenário caótico e perverso. O quarto
de paredes brancas mofadas era o mocó daquele jovem, que sem forças de reação,
afundava o nariz onde não era chamado.
Todo sábado era assim. Trabalhava até às 22 horas e ficava
até uma da manhã vagando pelas ruas sujas daquela cidadezinha. Em seguida,
passava na biqueira, comprava pó e caminhava ligeiro para o aconchego do seu
lar. A madrugada era uma noiva do mal, que o tirava para dançar os esplêndidos
passos vazios da desesperança.
A estante era uma grande amiga. Além de suportar as vozes
que saíam da telinha da mentira, também era a mão que estendia a química da
escuridão. Entre um tiro e outro, olhos atentos para ver se alguém aparecia.
Com medo, não queria ser surpreendido por ninguém, muito menos por seus pais,
que dormiam no quarto ao lado.
Pensamentos surgiam e o atormentavam: “Que barulho foi esse?
Preciso trabalhar daqui a pouco! Porque estou fazendo isso? Alguém me ajuda!” –
triste começo de juventude para um menino que mergulhou na fossa, como um
nadador mergulha na grande piscina em busca da medalha de ouro.
O sono desaparecia e só restava a neurose. A vontade de
dormir era imensa, porém o efeito não passava. Até o horário de sair para o
trabalho, havia tempo suficiente para uma boa reflexão. Aquilo tudo era uma
decepção para seus pais, que o criaram de uma forma decente. Também era injusto
consigo mesmo, pois trabalhava o mês inteiro e deixava seu salário escorrer
pelo ralo.
A depressão o consumia e o sono chegava junto com nascer do
sol. Já era hora de trabalhar. Seu cérebro não havia descansado e sua cabeça
doía. “Porque estou fazendo isso?”, perguntava a si mesmo. Tomava um rápido
banho e enquanto vestia o uniforme da empresa, assistia a missa que passava na
tela. As palavras que entravam por seus ouvidos traziam uma mescla de esperança
e desilusão.
Sem tomar café da manhã, desligava o aparelho, saia para a
rua e caminhava rumo à labuta em pleno domingo. O ambiente deserto não escondia
nenhum oásis para seu coração deprimido.
“Tenho que parar com essa porra...” – sua alma gritava.
Autor: Marcus Vinicius Machado, latino-americano criado em
Santa Isabel – SP. Um dia resolvi sair por aí e descobri que em cada esquina
existem várias poesias e contos. Também sou estudante de Jornalismo e criador
do blog Sem Sobrenome (100sobrenome.blogspot.com.br).