quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Lembranças

lembro das luzes ao longe, iluminando o subir do morro
e daquela casa que ficava depois da última luz
onde a eletricidade ainda não tinha chegado
do esgoto a céu aberto que o menino sempre pulava
para jogar bola no campinho esburacado

e do choro de Dona Berenice
quando viu o filho tombar
ao ser atingido por uma bala de não sei qual calibre
e quando o sobrinho apanhou na delegacia
falaram que confundiram com traficante

das casas empilhadas umas sobre as outras
barracos sobre barracos
moradias sobre moradias
morando pessoas espremidas, gente sofrida
mordida por misérias, fomes e apatias

lembro também dos barulhos de tiros
ouvidos na hora da novela
dos apartamentos
que assistem de bem longe
se convencendo que não tem nada com a vida dos mortos


Fabio da Silva Barbosa é jornalista, escritor, zineiro e educador social. Natural de Niterói, Rio de Janeiro, criou e realizou projetos como o Comunidade Editorial (junto com o sempre irmão Luiz Henrique) e o Impresso das Comunidades (com o companheiro de infância Alexandre Mendes). Começou a escrever na adolescência, quando a delinquência e o caos social eram suas principais influências. Nessa época, iniciou o trabalho com zines, hábito que ainda cultiva. Lançou com dois amigos (Alexandre Mendes e Winter Bastos) o livro UM ANO DE BERRO, pela Editora Independente, de Brasília. Posteriormente vieram os PDFS A SAGA DO JORNALISMO LIVRE e QUEM SOMOS NÓS?, entre outros que circulam livremente pela internet. Convidado por Victor Durão, entrou para o programa de rádio Hora Macabra, especializado em som underground. Com Eduardo Marinho realizou experiências como o Vídeo Garagem e o zine Pençá. Em 2013 lançou o livro ESCRITOS MALDITOS DE UMA REALIDADE INSANA, pela Lamparina Luminosa, de São Paulo, e em 2014 foi a vez do livro REBOCO CAÍDO - REFLEXOS E REFLEXÕES, pela Coisa Edições, Porto Alegre. Criou o evento TARDE MULTICULTURAL SEM FRONTEIRAS, onde reuniu apresentações artísticas, palestras, exposições, música, poesia e tudo que conseguisse encontrar pelo caminho. Contribui para diversos veículos impressos e via internet, além de manter a todo vapor o zine REBOCO CAÍDO. Além de outras coisas mais



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Boca Quente

Abaixou-se lentamente e começou a chupá-lo
Aquela boca quente o fazia delirar, 
Olhando com seus olhos de menininha, 
Não queria mais parar, 
Pede para que ele faça o mesmo, 
Então deita-se e devagar se abre para que ele possa senti-la.
Ela torce, se retorce e grita, 
Pede para que enfie, 
Pois quer ser comida, 
Naquela sala ouviam-se apenas gritos e gemidos, 
Eles só sentiam seus corpos colados e suados,
Eram dois corpos em um só, 
A menina não quer mais parar,
Ela só quer gozar e gozar.




Juliana, Paulistana , 27 anos.
Estudante de letras.Apaixonada pela vida, arte e poesia.
Liberdade de expressão e respeito ao próximo...
Esse é meu lema de vida.



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Traço e Linha



Eu nasci com milhões  
De entrelinhas
Finas linhas
Mal traçadas
Não sei ler.

Eu nasci com milhões
De entre laços
Traço traços
Traço formas
Pra viver.


Traçaria entre laços
Nessas linhas
Linhas turvas
Linhas tortas
Vou romper.

Desalinho mal traçados
Sigo traços
Entre abraços
Descontínuo
Meu sofrer.



Meu nome é Ádila J. P. Cabral - Nasci em Belém-Pa.  Mas cresci em uma cidade pequena do interior chamada São Domingos do Capim-pa.  Sou professora, formada em pedagogia/especialista em psicopedagogia.
Desde que me entendo por gente eu gosto de ler e li de tudo. Devorava livros e não demorou encontrar a poesia de Castro Alves, Florbela Espanca, e outros. E desse gosto pela leitura surgiu o desejo de escrever.
A cidadezinha de interior cercada pela mata, rios e igarapés. Imersas em suas próprias lendas, nascida do imaginário popular, deu campo a uma imaginação extremamente fértil. Sempre apaixonada por essa natureza amazônica. Essa força deslumbrante que rege a vida do amazonida, do ribeirinho. Um universo próspero e misterioso me fez criar um mundo fantástico. Tinha pra mim que minha casa estava entre fadas e duendes perto de algum grande mistério. E fazia de cada momento um grande acontecimento. Eu sou uma imaginadora que se fez escritora.
Minha poesia não reflete apenas sentimentos meus. Mas os das outras pessoas. Pelas observações que faço. Situações que me são muito incômodas, que me afligem e que não posso intervir ou modificar. Mas que me atingem profundamente e me trazem angústias. A poesia é um alívio e um canal para dar vazão.



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sua tristeza era só mais uma esquina


A última vez que a viu  foi na praça no centro da cidade de Ribeirão Preto. Era uma manhã de domingo e o sol já estava forte. Essa cidade é mesmo quente.  Caminhava devagar de mão dada com o filho que completaria dois anos no mês seguinte. Não teria reconhecido o garoto se não estivesse com a mãe. A memória lhe trouxe a lembrança  do menino   engatinhando vivamente pelo quintal.  Isso fazia meses. Ela estava linda em seu vestido estampado. O sol a contemplava tanto quanto ele. Quase disse  oi quando se aproximaram, mas desistiu antes que  o vissem e entrou em uma banca de jornais e revistas. Os dois passaram bem próximos a banca, ela estava tão compenetrada sendo mãe que não notou sua presença há alguns metros  entre revistas de esporte, fofoca e sacanagem.  Parou e abaixou-se para amarrar os sapatos do filho. Quando voltou a andar um vento misericordioso lhe trouxe seu perfume. Os dois continuavam seu caminho agora de costas para afonso.Pelo movimento dos corpos, percebeu que conversavam. Imaginou um possível diálogo entre mãe e filho. “Mamãe quero pipoca!" A resposta viria em uma voz atenciosa e responsável. “Agora não. Pipoca só após o almoço, bonito." Riu de sua falta de criatividade ao imaginar uma conversa tão clichê. A esquina se aproximava e pensou mais uma vez em  chamá-la, mas lembrou-se da última vez em que tentou  um contato e sentiu seu olhar pesar uma tonelada sobre seus ombros.  Desde que deixaram de se ver tem sido assim. Barbara o evita e Afonso insiste inutilmente em resgatar um mínimo de carinho que ela ainda possa ter por ele. Quando  enfim dobraram a esquina, sentiu-se de novo sozinho.  Comprou um jornal. Tinha um cigarro aceso em meio aos  dedos de sua mão direita e ia em direção a cafeteria. Um café quente era o que ele mais precisava. Debaixo do braço esquerdo tinha o jornal do dia. A cada passo reconstituía na memória tudo o que aconteceu naquela manhã. Tinha a cabeça baixa.  Sentiu um pingo molhar a sua nuca e depois desse, vários outros.  Largou  o cigarro e se protegeu com o jornal. Chegou a cafeteria molhado e pediu um expresso. Acendeu outro cigarro. Enquanto esperava o café, contemplava a chuva. Pensou novamente naquela manhã e concluiu que vida continuava e a sua tristeza era só mais uma esquina.



João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

domingo, cerveja e compreensão


uma vez tentei responder
tudo que elas me perguntavam

"quantos anos acha que eu tenho?"
disse menos. ela brigou
disse mais. ela brigou

"você me acha gorda?"
disse que não. engordou mais
disse que sim. me chingou e não emagreceu

"sou boa de cama?"
disse que sim. disse que eu não tinha experiência
disse que não. disse pra eu namorar uma puta

"você já traiu?"
disse que não. pensou que eu era frouxo
disse que sim. pensou em cortar meu pau fora

"você gosta da minha mãe?"
disse que sim. ficou possessa
disse que não. ficou possessa

"porque cancelou a viagem pra sair com seus amigos?" ela começa
sempre com uma mão na cintura
e mordendo os lábios

"me pega uma cerveja" disse

"ei... responde!" ela insiste

"vai congelar, tira do freezer também"
e ela foi...
rosnando.
ela tem um charme próprio quando rosna
que eu gosto.
e no fundo ela gosta
se sente útil
em buscar a cerveja.

e ela volta
dá um gole e me dá a lata
e deita no meu colo.
"achei as castanhas"
diz ela sorrindo.

é uma boa mulher,
só se preocupa demais.


Bastardo, 27 anos, nascido em São José dos Campos, mas entregue ao mundo. Filho de boa mãe, crismado e vadio. Escreve desde os 9 anos, versou pela poesia, músicas e se encontrou numa prosa poética em versos. Na internet é conhecido como  bastardo desgraçado: http://www.facebook.com/bastardodesgracado . Publicou seu livro: "poemas escritos em preto e vermelho: entre tragos e goles" disponível em : goo.gl/INsEQC

Participou de vários concursos a nível nacional, tanto em poesia e livros. Agraciado com alguns de temática urbana e erótica. Convidado para integrar o corpo da Academia de Letras e Artes Valparaíso - CHILE, como membro correspondente. Seus textos beiram o lirismo, mas imerge na cultura beat e o estilo bukowskiano, especialmente nos textos livres. Sexo, álcool, rock e blues estão estampados em sua literatura. Faz parte do coletivo SAPIENS MARGINALIS (https://www.facebook.com/sapiens.marginalis) e divulga seus textos pela internet e revistas especializadas na cultura marginal e novo colaborador do Zine e Blog Âncora.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Desabrigado





Na noite de nosso último encontro

Havia...

Um céu estrelado de mistérios

Cigarros agitados entre dedos

Indecisão em nossos gestos

Poucas palavras em um sorriso nublado

E seu olhar me desabrigando.


João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

meus cômodos não sei onde estão
passo portas que desconheço
embora me são tão iguais
por dentro é eco
meu grito solto
não mostra o lugar certo.
Me perdi sem endereço
sem nome completo
cartas de conduta não me chegam mais
qualquer rasura de poço ou escritas me traz alivio
vago para qualquer lugar.
Me perdi em sanidade

resta a loucura para me guiar.

Fabiana Dias Pannocchia, nasceu na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo em 21 de agosto de 1975, onde cursou seus estudos secundários. Cursou Serviço Social na Universidade Anhanguera.
Iniciou sua carreira como escritora participando da coletânea pela escola Sesi no ano de 1988. Atualmente participa do sarau permanente promovido pela Editora Coruja dentre outros na cidade de Ribeirão Preto.

É mãe de três filhos e profissional autônoma. Paralelamente às atividades profissionais, tem dedicado seu tempo ao estudo e à composição de poesias. Suas poesias refletem seus sentimentos que são moldados pelo dia a dia.

Participando também do livro de poesias Antologia Poética 2013, através do querido escritor Marciano Vasquez, a quem tem um profundo carinho por ser um de seus incentivadores no meio poético.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Banheiro R$1,00


Viaduto do Chá, essa procissão de gente que segue a passos rápidos, um atravessamento apressado margeado pelos charlatões do tarô, jogo de búzios e outras macumbas inventadas e adornadas com chifres de bode, cristais e promessas. Em frente ao Teatro Municipal um cantor sertanejo faz seu show, o amplificador estourado é uma caixa de abelhas e o público forma colmeia ao redor. Mulheres feias, bêbadas e sorridentes exibem sua dança e suas barrigas salientes para fora da calça apertada e da camiseta amarrada sob os seios.  Fazem gracejo aos homens em roda, que assistem passando o tempo. A roda quase atrapalha o fluxo da cidade, o ir e vir entre escritórios e restaurantes. É horário de almoço.
Shopping Light, subo seus três lances de lojas até o piso da praça de alimentação, tudo tem o mesmo cheiro, essa comida rápida, destemperada. Me demoro na escolha do restaurante, tantas opções, todas tão iguais. Não consigo decidir, minha bexiga dói. Já estava apertado desde antes, não consigo decidir, melhor procurar um banheiro. Fui. Catraca na porta. Coisa mais despropositada ter que pagar para livrar-se de seus excrementos, nunca gostei de pagar para ir ao banheiro, mas no aperto...  um real pelo prazer de urinar no mictório, sinto o calor úmido e ascendente da urina, sim , entendo perfeitamente Duchamp. O mictório não é conceito, é realmente uma obra prima. Alívio nos rins e enquanto chacoalho o pênis já consigo pensar tranquilamente: à parmegiana ou por quilo? Um real não é nada por essa sensação.
Volto à mesa decidido, peço meu prato, pago, como. Ao redor as conversas todas são uma massa indecifrável, volumosa, como uma boca que mastiga e mastiga e mastiga. Terminei. Cutuco com o palito um naco de carne entre os dentes e penso que o shopping não precisa de cobrar pela manutenção de um banheiro, mas para manter afastados os indesejáveis, toda essa gente do viaduto. Levo o prato até a lixeira, separo recicláveis. Desço os três lances de lojas. Sigo minha vida. Neste mesmo dia, mochila às costas, caminho já numa rua mais nobre, rua de bares e restaurantes, gente descolada, cinemas. Estou somente passando, rumo ao metrô. Ouço um grito rouco, grave. Como de um animal. Presencio uma cena grotesca, um mendigo sujo, vestindo seus andrajos, com as calças arriadas à meia bunda, gritando com o dono de uma banca de jornal: “Eu vou mijar onde, caralho? Eu vou mijar onde? Quer chamar a polícia chama, pode chamar” E continuava a urrar por sua necessidade fisiológica, existencial, encurvado, agarrando fortemente o próprio pênis sob as calças já úmidas. “Eu vou mija onde caralho?” 

Murilo De Paula, ator, dramaturgo e intrometido: escrevo, rabisco, improviso palavras, desenhos, qualquer coisa que caiba na voz que se faz entre um e outro. Atualmente integro as companhias Nave Gris Cia Cênica e Cia Teatro Balagan. Rabisco, corto e colo o Âncora Zine, que veio a mim já com Mãe e Pai, me considero então o Amante.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Mantra

Olhou pela janela de sua casa e viu o espetáculo dos fogos no céu. Era virada de ano. O ano de 1994 dava seu adeus e 1995 era recebido com festa nas ruas e casas da cidade. A casa de Antônio era a única da qual não se ouvia barulho algum. Quem passasse por ali imaginaria que não havia ninguém ali dentro, mas havia sim. Um solitário adolescente de 16 anos que apesar da insistência dos amigos para acompanhá-los para a festa na casa de um amigo, resolveu ficar sozinho, vivendo o que seria  o seu primeiro réveillon acompanhado do desalento.
Uma voz vinda de trás de seu portão o tirou do transe. Era Fátima que gritava seu nome. Ensaiou sua melhor cara de indiferença e desprezo e foi atendê-la. “Ah!!! È você, Fátima? O que quer?”  A garota já acostumada com seu jeito nem aí, respondeu com suavidade. “Deixa de ser bobo. Sai dessa casa e vamos nos divertir no André. É virada de ano. Você já passou o natal sozinho.  Vai passar o ano novo também? Não te entendo!!!” Antônio olhou por cima dos ombros de Fátima e respondeu, secamente.“Quero ficar em casa essa noite. Para mim é só mais um dia.” Disse isso e entrou sem ao menos se despedir da garota que ficou ali parada vendo o portão ser fechado em sua cara. Uma lágrima quis cair, mas antônio foi cruel consigo e não permitiu que ela rolasse por seu rosto. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma champanhe que sua mãe havia deixado, antes de ir para casa dos parentes virar o ano com festa e abraços falsos, foi até o quintal, estourou a champanhe e brindou com as estrelas.  Pensou em Fátima e no interesse estranho que tinha por ela. Era uma menina mais velha. Já ia fazer 20 anos em abril do novo ano e tinha um namorado de 23. O André. Dono da casa para onde todos seus amigos iriam. Antônio sentia tesão por Fátima. Tinha o corpo bem diferente de suas colegas da oitava série. Tinha peitos, pernas grossas, olhos verdes , um olhar  que só anos depois  descobriu conter muita sacanagem, mas  preferia continuar a fingir indiferença.  Sentia uma grande tristeza por usar aquela máscara de desprezo sempre que a  encontrava e que por dentro queimava de desejo. O que ela de fato sentia por um garoto de 16 anos que ainda espremia espinhas? Pena por ser um cara nada popular no bairro, com manias estranhas e gostos diferentes dos outros garotos de sua idade? Antonio jamais permitiria que sentissem isso por ele. Antes ser encarado como um arrogante.  Deu mais alguns goles e permaneceu olhando as estrelas por um tempo indeterminado. Lembrou-se que na sala havia uma ponta de baseado que um dos amigos  que passou em sua casa deixou para que ele fumasse mais tarde antes de dormir. “Já que vai ficar em casa, aos menos tenha bons sonhos com isso” Disse o amigo. A ponta estava sobre um livro na estante próxima a televisão. Acendeu o baseado, ligou a tv e começou a mudar de canal. Não se acha nada de bom na televisão nesses dias. Pensou. Quando sintonizou no canal cultura, ouviu uma batida que chamou sua atenção. Era um especial de Toquinho e Vinicius. Aumentou o volume e aquela lágrima que não caiu quando fechara o portão na cara de Fátima, caiu acompanhada de muitas outras e ele pôde sentir o sal  em seus lábios. A letra do poetinha na voz de Toquinho não trazia respostas, mas lhe despertava sentimentos que lhe salvariam do desalento.  Desligou a tv assim que esse samba acabou e dois versos da letra passaram a se repetir como um mantra em sua cabeça. Já podia ir dormir. Tinha feito as pazes consigo naquele instante. Aceitaria a partir daquele dia a tristeza que viesse, pois descobriu nos versos de Vinicius que “a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não.”


João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.

domingo, 20 de julho de 2014

Supernova


Nunca me dei bem com a bússola
Aquele norte irritante
Que desafiava a plasticidade
Do meu cérebro perdido
Meu norte sempre foi
A vista da minha sacada
Ao sul do prédio
Apenas a estrada que me levava para lugares longínquos
Mas a noroeste da minha vista
Me intrigava laranja aquela estrela fixa
Tão estática quanto a luz da sacada mais distante no horizonte
Ostentava soberana seus montes flamejantes
Nos errantes devaneios de um poeta amador


Distante do seu amor
Carregava sozinha a dor da solidão infinita
De uma supernova que já foi mas eu ainda não vi




Bruno Francia Carvalho é graduado em História pela UEM (Universidade Estadual de Maringá), pretenso vocalista, apaixonado por leitura, cinema, literatura, história da arte e outras coisas afins. Atualmente leciona como professor (na rede particular e estadual) e tem muito apreço pela escrita independente tanto de poesias, como de textos aleatórios que falam sobre o âmago de quem os escreve. Atualmente mantém um blog independente cujo conteúdo revela seus pensamentos; com o mero intuito de revelar para o público ideias particulares de uma pessoa comum que, como todo mundo, sofre de amores e ódios e tenta expressar isso em palavras

quinta-feira, 10 de julho de 2014

sobre(viventes)

Alguns amores nunca morrem
 acomodam-se como espinhos 
sob a epiderme 
de sentimentos mal resolvidos
  quando inflamados
no coração ou até mesmo na razão
não se sabe bem o que fazer com eles
não se pode matá-los, pois já foram queridos
não se pode esquecê-los, pois foram vividos
    resisti-los é muito pior 
pode ser fatal
o melhor a fazer é acolhe-los
fazer o que pedem
desanuviar as lembranças em retratos
gozar com pensamentos lascivos
fumar cigarros daquela mesma marca
há tempo para os amores passados.





João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.









quarta-feira, 21 de maio de 2014


A vida lhe projetou um jogo. Fez um tabuleiro de cores invisíveis aos olhos alheios. Só ela enxergava o cinza azulado que estava alinhado às montanhas que abriam um caminho amarelo diante de um solo sem cor. Era preciso colorir também quando não pudesse ver, regra número um. Início. Entrou em um carro, comeu no restaurante dourado e fumou seus cigarros vermelhos sem medo que chegassem ao fim. Procurar o fim, sem temer, regra número dois. Ao sair na janela, não viu mais carro algum. Mas continuar jogando em qualquer condição, era a regra número três. Entrou na casa marrom ao lado e passou algumas noites sem olhar pro céu, que de azul, não tinha nada. As coisas não precisavam ser das cores que todo mundo vê, regra número quatro.
Então o céu brilhou por dentro, e a fez sair pra ver lá fora a cor de rosa e espinhos que se misturava com o branco da espuma do mar.
Perdeu os sapatos, perdeu sacolas, as toalhas, os lenços, tudo se foi.
E a regra número três se fez mais forte.
O coração batia pedindo por água. Lembrou-se do restaurante dourado, do carro, dos tempos de ouro.
Muitos bens, muitos pertences, bons tempos. Mas naquele exato momento, havia um coração com sede, havia um motivo mais dourado que o restaurante e mais azul que o céu, que de azul não tinha nada, para chegar ao fim.
Amarrou a saia e seguiu em frente, pelo caminho das árvores pretas, que de bonitas, nada tinham. Mas seus olhos enxergavam um degradê, que clareava a cada pedra que lhe furava os pés.
O alaranjado do sol daquela tarde tomou conta do espaço e tempo vividos por ela.
De longe, o lago branco. E seu coração, tão seco, quase morto de sede, pulou do peito pronto pra quebrar as regras, louco pra mergulhar no fim.
Nesse jogo, chamavam o "fim" de outro nome. Estranha palavra, comum entre os homens e pouco praticada.
Ela e seu coração encontraram o amor.
 
Conheci Loren Munhoz em um lapso no mundo virtual quando vi uma publicação de Paul Verlaine em seu Faceboock. Logo pensei: poucas pessoas conhecem esse francês maluco  que teve uma história intensa com Rimbaud. Sugeri que escrevesse algo aqui no blog e aí está.Loren é estudante  de Jornalismo, tem 25 anos e é apaixonada por cinema
 
 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Lapsus calami

Nasceu no Planeta Azul (o habitável planeta Terra), exatamente no dia vinte e dois de janeiro de mil novecentos e noventa e três, um ser humano. Após alguns anos, este ser entrou em conflitos com a própria existência. Estudou a fundo e chegou a conclusão de que realmente existia. Algo que não existisse não questionaria a própria existência. Este ser julgava não pertencer ao lugar em que vivia. Saiu, então, pela imensidão do universo, a fim de descobrir se vivia ou se apenas existia. Pelo caminho encontrou uma pedra que não era a de Carlos Drummond de Andrade. Será que a pedra existe? O ser julgava sua existência, pois a luz que a tocava refletia em seus olhos, porém o ser não podia afirmar que ela vivia. Saíra a fim de respostas que não possuía, pelo menos não todas. O mistério jamais finda. Começou, então o estudo dos lugares próximos ao planeta em que vive (talvez sem existir). Descobriu quais elementos formavam o Sistema Solar, os que compõem as estrelas e mais: o ser descobriu, após anos, que conhecera apenas nossa galáxia espiral Via Láctea e que o universo é “finito”. Resolveu avançar no tempo julgando ir para o futuro cerca de 2,5 milhões de anos-luz, chegando a nossa vizinha mais próxima, Andrômeda. E é lá que a história pausa... Assim que acabar de escrever essa parte da história o ser voltará ao passado/presente. Em seu tempo psicológico passaram-se milhares de anos, porém, o tempo cronológico marcara apenas 53 minutos. É nesse jogo de passado/futuro em meio aos mistérios que cercam minha existência que lhes digo que a história não termina... E que essa é a eterna busca do "EU" entre tantos "EUS", entre tantos "SERES".


Mariana Guerra é estudante de engenharia mecatrônica, estuda Filosofia&Religião, Biologia e Mecânica Quântica (Veduca). Cursa astronomia pelo ON (Observatório Nacional). Apaixonada por música clássica. Leitora de Nietzsche e fã incondicional de Einstein. Sempre achei que minha vocação eram as exatas, mas percebo que, me aproximo cada vez mais, da filosofia.